Este livro reúne um conjunto de oito textos expondo reflexões sobre tradução literária, focando os projetos e práticas dos tradutores. É o resultado de trabalhos apresentados durante o “II Colóquio de Tradução Literária: projetos e práticas do tradutor”, evento realizado no auditório Henrique da Silva Fontes, no Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no dia 31 de maio de 2016, em Florianópolis. O evento foi organizado por um grupo de pesquisadores dos estudos da tradução da UFSC, Andréa Cesco (PGET), Gilles Jean Abes (PGET) e Juliana Cristina Faggion Bergmann (MEN).
O objetivo desta obra é não somente o de incentivar um debate produtivo entre experientes tradutores, estudiosos da tradução e da literatura, mas também com tradutores em formação, para que compartilhem — a partir de diferentes projetos e práticas que aqueles tradutores enfrentaram — experiências e reflexões decorrentes de seu empenho nesse complexo processo de decisões. A tradução, como diz Antoine Berman em seu A tradução e a letra ou o albergue do longínquo, é uma experiência que pode se abrir e se (re)encontrar na reflexão. E empreender essa experiência, ainda segundo Berman, com base em Heidegger, quer dizer deixar o fazer vir sobre nós, que nos atinja, caia sobre nós, nos derrube e nos torne outro. É justamente este fazer e este outro que pretendemos acolher, compartilhar e provocar em todos os leitores, assim como havíamos intentado com aqueles que assistiram às comunicações e palestras.
Convidamos os leitores a vivenciar essa experiência e experienciar esse fazer que tem como princípio a leitura cuidadosa, crítica por excelência. E se ler é traduzir, traduzir é a maneira mais atenta de ler.
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O “II Colóquio de Tradução Literária: projetos e práticas do tradutor”, organizado, como o primeiro, por Andréa Cesco, Gilles Jean Abes e Juliana Cristina Faggion Bergmann, deu lugar a este livro. Seus oito textos mostram como se firmou, entre os tradutores literários atuando no Brasil, um rico intercâmbio entre prática tradutória e reflexão sobre o texto traduzido. O profícuo diálogo entre tradutores e pesquisadores da tradução literária se comprova na feliz realidade de tradutores-pesquisadores e pesquisadores-tradutores.
Houve uma fértil sintonia entre a proposta dos organizadores e a performance oral e escrita dos participantes. O convite para os tradutores descreverem e pensarem a prática tradutória em relação a projetos tradutórios rendeu os melhores frutos. A cuidadosa escolha dos convidados contribuiu para o sucesso da empreitada: tradutores representativos, de fora e de dentro da universidade, de diferentes línguas, em distintos momentos da carreira tratando da tradução de diferentes gêneros e de obras escritas em espaços e épocas variadas.
O resultado é um livro, ao mesmo tempo, leve e denso, em que temos o gosto de aprender sobre a mais recente tradução do Quixote (Ernani Ssó), de ler sobre uma antologia de Boccacio (Nilson Moulin), conhecer uma proposta herética de uso da ortografia (Eclair Antonio Almeida Filho), entender a arte de traduzir poesia (Martha Pulido), explorar uma dupla tradução de Der Schimmelreiter, de Theodor Storm (Maurício Mendonça Cardozo), e identificar os desafios de traduzir Stephen Hero, de James Joyce (José Roberto O’Shea), e a obra experimentalista La disparition, de Georges Pérec (Zéfere; José Roberto Andrade Féres). Completa o livro um artigo escrito pelos organizadores sobre a tradução dos Sueños de Quevedo para o francês, o inglês e o português, que discute, sinteticamente, o conjunto das questões do colóquio.
Walter Carlos Costa (PGET/UFSC; POET/UFC; CNPq)
Didáticos / Técnico