Transtorno moral

Transtorno moral Margaret Atwood


Compartilhe


Transtorno moral





E se a vida de uma pessoa pudesse ser contada em 11 pequenas histórias? Os melhores e piores momentos, não dispostos em ordem cronológica, mas na hierarquia das lembranças? É exatamente o que faz a prestigiada Margaret Atwood no romance Transtorno moral: a autora perpassa 60 anos da vida ácida e encantadora de Nell, uma mulher que não sabe muito bem quem é ou que deseja ser, em 11 contos relacionados entre si. Protagonista e por vezes narradora, Nell conta sua infância, o nascimento da irmã Lizzie, o casamento com Tig, a maturidade e os cuidados com a mãe doente, sempre alternando os pontos de vista sobre si mesma: ora recusando a intelectual que projetou, ora a herança mundana do caráter dos pais.

As belas imagens criadas por Atwood funcionam como metáforas para ilustrar os transtornos pessoais de Nell. No conto-capítulo O cavaleiro sem cabeça, por exemplo, as irmãs Nell e Lizzie lembram de uma passagem da infância enquanto vão de carro visitar a mãe enferma. O episódio acaba por revelar o conforto da personagem com pensamentos suicidas na adolescência. Quando Nell tinha 13 anos, fez uma fantasia de “cavaleiro sem cabeça” para usar no Halloween. Apesar de sentir-se crescida para a brincadeira, a menina insistiu no traje pela satisfação que o horror lhe proporcionava: escondidas nas roupas, levava nos braços uma cabeça feita de papel-machê, com olhos saltados e sangue jorrando pela boca, exatamente como o personagem do livro que lia no momento, A lenda do cavaleiro sem cabeça, de Washington Irving.

Em comum, as histórias são pontuadas pela memória de livros aleatórios que marcaram a vida da personagem. No conto A arte de cozinhar e servir, por exemplo, Nell comenta que, aos 11 anos, este livro de receitas, na verdade uma brochura promocional de uma confeitaria, era seu livro preferido. Os conselhos sobre o comportamento da dona de casa a encantavam particularmente: “Com paciência, bondade e senso de justiça”, ela me afirmou, “pode-se transformar uma moça desmazelada e inexperiente numa criada bem-vestida e profissional. A palavra que eu me agarrei foi transformar. Será que eu queria transformar ou ser transformada? Viria a ser a patroa bondosa ou a criada desmazelada?”, atesta a narradora-personagem, dando início, ali, à formação de seus ideais feministas, que a acompanhariam pela vida.

O caráter autobiográfico de Transtorno moral é notável, ainda que não seja evidente. Apesar do último capítulo assumir claramente um tom confessional, (Os garotos no laboratório) e da dedicatória do livro dar alguma pista (Para minha família), Margaret não deixa claro o quanto de si mesma deixou em Nell – o que torna a leitura ainda mais instigante. Vale lembrar que o título original da obra, Moral Disorder, foi tomado do livro que o marido de Margaret, o também aclamado escritor canadense Graeme Gibson escrevia em 1996, quando decidiu abandonar a literatura.

Ficção / Literatura Estrangeira / Romance

Edições (1)

ver mais
Transtorno moral

Similares


Resenhas para Transtorno moral (2)

ver mais
on 31/5/20


É complicada a minha opinião sobre este livro, eu me arrastei pelo começo e quando finalmente o livro me cativou ele acabou.... leia mais

Vídeos Transtorno moral (1)

ver mais
Transtorno moral | #252 Li e adorei

Transtorno moral | #252 Li e adorei


Estatísticas

Desejam16
Trocam1
Avaliações 3.9 / 15
5
ranking 20
20%
4
ranking 60
60%
3
ranking 7
7%
2
ranking 13
13%
1
ranking 0
0%

27%

73%

Vivi
cadastrou em:
05/03/2012 22:41:51
Jenifer
editou em:
15/09/2019 12:18:11

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR