Tríade Poética

Esta não é a primeira vez - e decerto não será a última - que escrevo sobre os poetas cearenses. E faço-o porque não apenas o Ceará, mas também quase todo o Nordeste, responde por uma considerável messe da boa poesia que hoje se produz entre nós. Ali se encontram os nomes consagrados de Francisco Carvalho, Gerardo Mello Mourão, José Alcides Pinto, Adriano Espínola, Luciano Maia, Pedro Lyra, Pedro Henrique Saraiva Leão e Floriano Martins. E a eles agora se junta o de Ary Albuquerque, que reúne nesta TRÍADE POÉTICA o que de melhor eacreveu ao longo da vida, uma vida - é bom lembrar - que desde sempre se dividiu entre a poesia e as atividades empresariais, como ocorreu no passado com Augusto Freserico Schmidt e como ocorre no caso do piauiense Álvaro Pacheco.
É visível em ARY ALBUQUERQUE uma forte é indissolúvel filiação ao lirismo cósmico, ao resgate da memória e ao eterno, conquanto escorregadio e traiçoeiro, tema do amor. Enfim, uma poesia que, à semelhança da que escreveu Dylan Thomas, se debruça sobre as questões seminais da existência humana: o tempo, a morte, o nascimento, o amor, a infância. Surpreende neste livro o milagre da comunhão que consegue operar o poeta entre a espontaneidade dos versos e o extremo apuro com que os entalha, impedindo assim que os contamine aquele transbordamento da emoção que acabou por desencaminhar incontáveis de seus pares. Sua lição, ao contrário, é a da austeridade expressiva, daquela sábia e seca parcimônia que caracteriza a alma nordestina, vale dizer: essa flor que, como ensina João Cabral de Melo Neto, não deve ser perfumada em demasia, mas sim cultivada "com mão certa, pouca e extrema". E é nessa efusão contida que consiste a "emotion recollected in tranquility" com que nos brinda e comove o poeta Ary Albuquerque.

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