Trilhos do Poder

Descrições impactantes e diálogos ágeis. "Trilhos do Poder" lança mão de um estilo que muito se assemelha à linguagem cinematográfica. Cláudio Alcântara, um cinéfilo de carteirinha, não disfarça a influência da tela grande em sua literatura. Escreve com a formatação que só o cinema tem. Mais que isso: leva o leitor para dentro da narrativa. Pode-se dizer, então, que "Trilhos do Poder" é mais cinema do que literatura.



"Trilhos do Poder" é uma ficção, um romance policial que segue à risca as técnicas do bom filme de suspense. Cláudio misturou os ingredientes na dose certa. Violência, crimes, corrupção e homossexualismo nos bastidores da política. O autor traça o perfil psicológico dos personagens de tal forma que eles parecem reais. O protagonista, principalmente, um jornalista que sabia demais, não é o mocinho da história. Não é perfeito, como todos os seres humanos não são.



A antagonista, a delegada encarregada de solucionar os crimes, também não é retratada como uma pessoa que representa apenas o mal. Cláudio teve a preocupação de mostrar os prós e os contras de cada personagem, deixando para o leitor as conclusões finais. Talvez seja esta a maior qualidade de "Trilhos do Poder". Um romance que agarra o leitor no primeiro capítulo e vai municiando esse mesmo leitor, aos poucos, com informações que se encaixam a cada página.



O autor diz que a intenção é retratar os bastidores da política. Mas "Trilhos do Poder" vai mais longe. Os fatos narrados pelo protagonista, que é assassinado no primeiro capítulo, podem estar acontecendo neste exato momento em qualquer cidade do Rio de Janeiro, em qualquer ponto da região Sudeste, em algum lugar do Brasil ou em outra parte qualquer do mundo. A universalização dos fatos é que torna a história leitura obrigatória para quem quer conhecer um pouco mais sobre a vida dos políticos.



Cláudio Alcântara resgata com este livro um pouco do seu espírito crítico. Detalhe: "Trilhos do Poder" é um drama, mas há passagens engraçadíssimas também. O recurso de contar a história dentroo de uma história é bem amarrado pelo autor que usa o tempo descontínuo como só o cinema ousou fazer até então. Outro ponto que chama a atenção na literatura que Cláudio se propôs a fazer é o retrato dos fatos de maneira bem próxima da realidade. Em "Trilhos do Poder", assim como na vida, muitas coisas ficam sem explicação. Ao leitor, o privilégio de tirar as suas próprias conclusões.



Paulo Rangel.