Um modelo para a morte

Um modelo para a morte Adolfo Bioy Casares


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Um modelo para a morte


Os suburbanos / O paraíso dos crentes




Um modelo para a morte / Os suburbanos / O paraíso dos crentes, de Jorge Luís Borges & Adolfo Bioy Casares (240 pp.), não foi, na verdade, escrito por Borges ou Bioy Casares, mas por B. Suárez Lynch, um discípulo de H. Bustos Domecq. Como, porém, Bustos Domecq é na verdade Borges e Casares, neste livro eles são discípulos de si mesmos. Como seria de esperar, o belo, complexo e sofisticado jogo de xadrez e de espelhos que é a obra de Borges, ao se fundir e confundir com o humor cerebral de Casares, gera desdobramentos que são, de um lado, sérias questões de modernidade literária (envolvendo autoria, paródia, citação, invenção, gênero etc.), e de outro, puro deleite inteligente — como aliás haveria de ser em histórias policiais, que é afinal do que se trata. A competente tradução é de Maria Paula Gurgel Pinheiro, e o esclarecedor e instigante prefácio, de Júlio Pimentel Pinto.

É portanto o prefácio que assim sintetiza: “Tal qual Bustos Domecq, o texto de Suárez Lynch associa investigação rigorosa com sátira ininterrupta, exageros racionais com saídas ilógicas, discursos bem articulados e ações planejadas com comentários aleatórios e reações espontâneas. Por trás desse jogo de contrastes (um duplo equivalente à duplicidade de autoria), a mesma valorização da oralidade que caracterizava os textos do mestre. [...] Recolheram o policial da periferia da literatura canonizada e o elevaram; os recursos para tanto foram vários: a valorização de seus aspectos formais, a introdução de reflexões filosóficas, a entonação satírica e a determinação de um lugar privilegiado para o leitor”. Deleite inteligente, dissemos.

Um modelo para a morte é então um desdobramento (em mais de um sentido) da obra de Bustos Domecq, incluindo o gênero, que se poderia chamar de conto policial enxadrístico (desde que se lembre do antigo aforismo segundo o qual o xadrez é muita ciência para ser um mero jogo, e muito jogo para ser somente ciência), e também os principais personagens, como o barbeiro-prisioneiro-detetive-por-dedução Don Isidro Parodi.

Os suburbanos e O paraíso dos crentes, por sua vez, dão mais uma volta no parafuso moderno, partindo do gênero mais cinematográfico da literatura, o policial, para voltar ao próprio cinema: pois não se trata de contos, e sim de dois roteiros. Ou talvez não. Pois como reconhece o próprio Bioy Casares em seus diários, eles nada entendiam de roteiros. Eventualmente, um deles, o primeiro, foi de fato filmado (Los orilleros, direção Ricardo Luna, 1975, 90 min). Mas isto não passa de uma casualidade ou de uma ironia borgeana. Pois estes são roteiros cinematográficos policiais escritos para serem lidos como os contos policiais que, comumente, parecem ter sido escritos para virarem roteiros...

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Gustavo
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16/06/2010 18:42:46

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