"O belo livro de Ana Paula Morel retrata e celebra, no marco dos 30 anos do levante de primeiro de janeiro de 1994, uma das experiências políticas e existenciais mais apaixonantes e entusiasmantes das últimas décadas. Naquele dia, o México dos de baixo desvalando o país oficial que acreditava estar entrando no "primeiro mundo" com o acordo norte-americano de livre comércio (NAFTA).
Das profundezas da Selva Lacandona, do recalque de um país e continente indígenas, brota um fantástico experimento criativo, que inspira desde então inúmeros movimentos em todo o planeta, desde as manifestações antiglobalização às rebeliões dos povos ameríndios passando por uma miríade de lutas urbanas. Escucharon? Um levante dos olvidados e permanentemente perseguidos e reprimidos. Deslocando sinais, em 1994 empunham as armas para abrir espaços de sobrevivência e subsistência. Em 2012, fazem a marcha do silêncio (ecoando outra, de 1968 na capital) para erguer as vozes mayas. Colocam o capuz para mostrar os corpos da dignidade coletiva. A derrabada em 1992 (no dia em que se completavam cinco séculos de colonização) da estátua de Colombo em San Cristóbal de las Casas anuncia o novo mundo zapatista e a ruína da guerra monocultural suicidária capitalista."
Jean Tible, professor da USP e autor de Marx Selvagem.
Política / Sociologia