A matéria, o tempo, a linguagem são alguns temas de João Filho e que deságuam numa só correnteza: a vida. Mas não é somente a vida enquanto Eros, positividade, criação, tampouco a vertigem de sua polaridade – Thanatos, negatividade, caos. Não é apenas a vida cotidiana, que, de resto, já produziram bons poetas. Muito antes de se interessar pela vitalidade do mundo ou se embrenhar nos jogos de opostos, o que mais captura o olhar do poeta é a epifania do instante-vida, aquela fagulha de momento em que brilhamos unidos ao Todo, em que nos percebemos vivos e desejamos alcançar o outro. Nesse sentido, Um sol de bolso é a metáfora perfeita que sintetiza a busca do poeta pela efetivação dessa luminosidade própria, secreta, na verdade, é a própria existência da poesia: uma chave de leitura, guardada no bolso, à espera de ser usada para clarear o mundo.
Segundo um grande escritor brasileiro: “Os poetas verdadeiros condensam uma máxima por trás de suas imagens: um fragmento de uma lei universal, um saber ora ignorado pelos homens, um naco do paraíso outrora permitido. Como são obsessivos — se assim não fossem, poetas não seriam —, reinventam sua descoberta a cada novo poema.” No seu terceiro livro de poesia, antecedido pelo premiado A dimensão necessária (2015) e por Auto da Romaria (2017), João Filho eleva a estratégia poética à síntese epigramática, na qual um verso condensa todo o poema.
Poemas, poesias