“Quando eu fiz essa história, ainda publicava apenas na Revista Recreio e tratava de atender a uma encomenda - um texto que falasse de Páscoa. Mas já estava escrevendo havia mais de dois anos, me sentia com alguma segurança, e resolvi aproveitar para fazer uma experimentação, já que o tema era determinado, me dei o direito de tomar muita liberdade com a forma. E resolvi construir um livro que fosse espelhado. Isto é, bem simétrico, como quem se olha num espelho, alternando os pontos de vistas dos dois protagonistas - o menino e o coelho. Ao fazê-los ficar bem parecidos, comportando-se de forma semelhante, a história passou a igualar realidade e fantasia. Com isso, a fantasia passou a lançar dúvidas sobre a a realidade.
É uma história muito simples, para crianças pequenas. Até recentemente não teve vida independente. não ganhou prêmios, não foi traduzida, nunca teve uma resenha ou crítica de ninguém. Mas a experiência de escrevê-la me ensinou muita coisa sobre os mistérios da escrita, me mostrou como a forma pela qual a gente estrutura um conto ajuda a revelar coisas profundas.
(Ana Maria Machado)