Esse livro, como escreveu Julia Panadés em seu posfácio, é a “salvação impressa dos cadernos sem pauta”. Ele resulta de dois cadernos A4, capa de couro preta, papel pardo, preso por tiras de couro. O caderno que estava sempre sobre a mesa do atelier e no qual eu escrevia e rabiscava antes de pintar ou desenhar, depois de ler um pouco de poesia. Esses escritos coincidem com a primeira infância dos meus filhos.
Verbo do rio é o sumo da palavra escavada, vincada no pó pardo da areia diluída do dia. A palavra como via de aceso ao inominável, tentativa de contorno das sensações corpóreas. A palavra revelada, que salva das explicações e das fórmulas. Eu me abaixo e escavo no chão essa palavra, verbo, outra palavra, rio, e o dia continua na respiração das folhas.
Mariana Paz
Literatura Brasileira / Poemas, poesias