Nenhum homem é uma ilha, nos lembra o célebre verso de John Donne. A poesia de Via Crucis, de Márcio Moraes, celebra os estiramentos dos encontros possíveis "encarnados" na amizade, no erotismo refinado e alegre de "No Hall" ("na nuca trigueira os cabelos lisos"), no humor magistral do poema escatológico intitulado "Cagada", na homenagem aos poetas brasileiros que precederam o Modernismo (Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Gonçalves Dias, Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos), todos comparecendo numa intrincada teia discursiva sumarizada em um único soneto "Gerações". Se palavra puxa palavra, como dizia Drummond, no lirismo plural do poeta de Montes Claros "um olho puxa o olhar puxado do outro". Talvez ai, nesse momento efusivo que a lírica propicia, poderíamos abrir novas apostas ao hospedar uma poética consciente de seu não-lugar. Não poderíamos esquecer de abrigar o Mysterium do infinitamente Outro que perfaz a segunda parte do livro intitulada "Rosarium". Nesse fecho, vê-se uma cadeia de sonetos que toca, talvez de maneira ainda mais pungente, os leitores que têm especial apreço pela "boa nova" da vinda de Jesus, sua vida e ressurreição. (Rodrigo Guimarães, poeta e professor Doutor de Literatura)