Uma cartografia da memória, eis a síntese que se poderia fazer de Vodu urbano, de Edgardo Cozarinsky. O texto oscila entre tempos e espaços fronteiriços de um passado argentino, construídos a partir de uma narrativa presente parisiense. Inevitável, ao ler este romance, pensarmos no binómio Buenos Aires/Paris, cristalizado em Rayuela e em tantos outros contos do Cortázar. Só que, à diferença da catedralícia Rayuela, Cozarinsky institui seu talentoso perfil de escritor/cineasta, recuperando na escrita as marcas da história, através de uma economia que beira o minimalismo.
A história assemelha-se a um mosaico, que, na superfície da página desconstrói e reconstrói, por um processo de bricolagem residual, uma história de ícones argentinos, de um país em que o discurso da barbárie, exacerbado nos anos 70 pela ditadura militar, desafiou as normas herdadas de uma Europa de efeitos supostamente civilizados e civilizatórios. Gardel, Evita, Victoria Ocampo são alguns dos ícones que se espraiam no sistema de representação fragmentária construído por Cozarinsky.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance