Aqueles pais, que em casa cultivavam a virulência, na presença daqueles que julgavam ricos ou poderosos, eram curiosamente subservientes, passivos, complacentes, capachos mesmo. Eu observava, admirada, como aplaudiam, quando vinham daqueles, todos os comportamentos que em casa execravam, como repetiam em uníssono eco, quando proferidas por aqueles, todas as palavras que em casa repudiavam.
Ganhei uma bofetada por chamar a atenção daqueles pais para ações tão flagrantemente contraditórias. Logo percebi que batiam em meu rosto porque podiam fazê-lo sem medo de revide e que era por isto que feriam os filhos, que os sufocavam, que os torturavam, quando não podiam fazê-lo aos que verdadeiramente os machucavam, pois, naquele mundinho perverso, nós éramos as vítimas ideais, as que não protestavam, as que não se esquivavam, as que não se rebelavam, as que não matavam.
Contos / Literatura Brasileira