Se a Europa de seu tempo não lhe deu a devida atenção, as décadas seguintes se encarregaram de corrigir esse equívoco. Hoje o italiano Giacomo Leopardi (1798-1837) é amplamente reconhecido como um dos maiores poetas do Ocidente, e seus Cantos, segundo Otto Maria Carpeaux, são “a resposta moderna à Divina Comédia”.
Nos 41 poemas desta obra incomparável, que podem ser lidos como um único canto escrito e reescrito pelo poeta entre 1816 e 1836, os aspectos mais significativos da experiência humana estão magistralmente integrados — da felicidade agônica provocada pelo amor ao sentimento áspero da natureza madrasta e da nulidade dos nossos esforços. Por mais árduo, porém, que seja o sofrimento, a poesia de Leopardi opera o milagre de transfundir o que é dor individual em comovente dor e ardor universais.
Com poemas tecnicamente impecáveis, dotados de uma densidade de sentimento e pensamento quase única na literatura dos últimos duzentos anos, poucos livros de poesia são tão diversos e simultaneamente tão coesos quanto estes Cantos de Leopardi, que vão do gesto heroico ao silêncio mais íntimo, sempre intensos, sempre límpidos. Neles até mesmo a beleza das paisagens da Itália se revela uma moldura da condição humana. Precedida por uma luminosa introdução à vida e à obra do poeta, a tradução de Álvaro A. Antunes, publicada pela primeira vez em 1985 e revista especialmente para esta edição bilíngue, reproduz fielmente os metros e os esquemas estróficos do original enquanto acompanha de perto os movimentos da singular sintaxe leopardiana.
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