As crônicas de Ângela Ramalho são conversas bem humoradas, divertidas, que se leem com prazer. Em poucas horas, como parece ser o seu objetivo, - nesses tempos de tecnologia intempestiva - para facilitar, ir ao encontro dos jovens da geração PC, que não têm paciência para ler coisas longas. Mas que também vão satisfazer a leitores outros Ela se sai bem neste desvelar-se, escolhendo um gênero que só aparentemente é fácil, porém dotado de certas armadilhas. A crônica tem suas leis, não deve ser muito profunda, ou prolixa, porque corre o perigo de resvalar para o ensaio, ou não encontrar leitores; se superficial demais não desperta interesse ou confunde-se com nota social vazia, gratuita. Tem que dizer muito com poucas palavras, sobretudo, não pode pesar. E ela é bem sucedida, circulando com naturalidade, borboleteando sobre os assuntos, muitos, de que se ocupa: seu status de pessoa integrada, o trabalho, os grandes temas da vida, o amor, as perdas, uma leve filosofia. O momento de poesia fica disseminado em várias páginas, inverno- é um deles. E há muitos nesse texto. Vez em quando carrega o cenho e usa de muita seriedade, compondo verdadeiras obras primas, crônicas perfeitas, irrepreensíveis: de abraços e cheiros, é um exemplo disto, para além da eternidade- deveria ser utilizado como bandeira de alerta. É uma advertência para aqueles que não se dão conta de que o destino não espera tudo está marcado para acontecer, e necessita-se aproveitar o instante para se dizer a uma pessoa que a ama. Não deixar para amanhã. É preciso passar a experiência adiante: em estado de graça e entre tantos ais- são bons exemplos dessa solidariedade humana, indicando as falhas do caminhar para quem vem logo atrás. De um modo geral a marca desse conversar consigo mesma é a extrema leveza. Que não nos permite largar o livro enquanto não se chega à última página. Como uma obra de ficção. Como um romance bonito que vai nos legar algum sentimento de pertença àquele universo amável.
Rejane Machado (professora, escritora e crítica literária).