"Considerado por muitos críticos como um dos mais refinados e instigantes trabalhos de ficção do grande mestre russo, podendo figurar com destaque ao lado de Crime e Castigo, O Idiota e Os Irmãos Karamazov, Notas do Subterrâneo nos coloca diante da grandeza e da miséria da condição humana. O personagem central do romance é um homem que vive solitário entre a multidão, oscilando entre o orgulho e a autodepreciação, que busca ser entendido e amado pelos seus semelhantes e, ao mesmo tempo, despreza a necessidade de se conformar a padrões tidos e havidos como aceitáveis ou até recomendáveis pela maioria. A crônica de sua paradoxal existência, quase sempre dominada pela humilhação e pela insegurança, revela uma figura marcante e inesquecível que se incorporou para sempre ao universo literário do mestre russo.
A figura central do narrador/protagonista, oscilando entre grandeza e miséria, coragem e covardia, lucidez e delírio, a cada instante nos propõe desafios morais e intelectuais que nos tocam no mais fundo de nossa capacidade de refletir e julgar, levando-nos às certezas da dúvida e à instabilidade emocional que, segundo Dostoievski, são inerentes a todo e qualquer ser humano e para todo o sempre lhe dificultarão a plena conquista da felicidade.
Existencialista, o escritor russo apela simultaneamente aos nossos sentimentos e ao nosso intelecto ao tecer um painel que nos coloca, perplexos e angustiados, diante de situações-limite onde ser e não-ser deixam de ter a transcendência a que o mundo da realidade material nos condicionou, para se subordinarem aos caprichos de um eu interior pleno de contradições e incertezas. Contradições e incertezas que podem conduzir os personagens a escuros subterrâneos de humilhação e degradação, não porque deles não consigam escapar, mas porque neles encontrem o perverso prazer de paradoxalmente se retemperarem através do sofrimento e da autopunição." (Texto de autoria de Ênio Silveira, que compõe as orelhas do livro.)
Literatura Estrangeira