Mauricio 11/04/2020Cegos de tanto enxergarJá conhecia um pouco deste livro e do autor, José Saramago, mas a curiosidade pela leitura veio depois de toda a crise atual que estamos passando na pandemira do Covid-19.
No livro toda uma cidade, ou o mundo, não se sabe, acaba um a um, sendo acometido por uma cegueira branca, que torna as pessoas incapacitadas para a maioria das atividades do cotidiano.
O fato de a cegueira ser branca me pareceu bastante sugestivo.
É de arrepiar o desenrolar dos fatos, de como a sociedade vai ficando cada vez mais cruel, com cegos isolados numa quarentena a se guerrearem por um prato de comida ou praticando todo tipo de dominação e humilhação de um grupo sobre outro, onde numa análise seria o reflexo da nossa sociedade que se diz "sã" da visão.
Saramago evitou usar nomes aos seus personagens, talvez para ilustrar a insignificância humana diante dos acontecimentos e fenômenos da natureza ou de Deus, como na passagem onde santos e imagens religiosas aparecem numa igreja com os olhos vendados. Em lugar usou termos como o "velho da venda preta", a "rapariga de óculos escuros", etc.
Todo o enredo vai se passando numa velocidade alucinante e num tom cômico e ao mesmo tempo trágico.
Há um pequeno incômodo na compreensão de vários trechos devido à grafia portuguesa e ao estilo da escrita, sem divisões claras entre os varios narradores onipresentes e oniscientes que vão se alternando rapidamente.
No final do livro, a frase dita pelo médico resume toda a mensagem, mas não vale citar aqui.
Após a leitura, deixo aqui a minha reflexão para os dias difíceis atuais:
Cegos de tanto "enxergar", somos também hoje adoecidos não pela Covid-19, mas pela ignorância de tanto "saber".