Gabriel 25/03/2021
Um manifesto estilisticamente impecável
Iniciei a leitura do livro crendo se tratar de ensaios a respeito do tão conturbado e enfadonho tema das turbas identitárias. Contudo, para a minha grata surpresa, o antropólogo baiano, Antônio Risério, constrói uma narrativa que mais se assemelha a um manifesto virulento sem perder as pompas da elegância estilística.
É preciso reconhecer que a virulência é o meio mais adequado para estabelecer um embate com a militância fascistóide que se impregnou nos movimentos da nova esquerda, razão pela qual Risério adotou uma postura justificadamente inflexível.
No entanto, acima do caráter crítico deste manifesto, o que sobressai realmente é a defesa do Brasil em sua essência, numa leitura que se insere na tradição freyriana, rechaçando frontalmente o delírio da mentalidade [de colonizado] dos militantes identitários. Não estamos diante de uma realidade americana ou africana, mas diante do Brasil, socioculturalmente rico por seu caráter de miscigenação e de pluralismo sincrético — esses mesmos elementos que a militância identitária quer apagar, num rasgo de importação bovarista dos imperialistas americanos que eles tanto criticam.
Com serenidade e sofisticação, confessa Risério: "No meu doce exílio na Ilha de Itaparica, sob os signos de José de Anchieta e do meu amigo João Ubaldo Ribeiro, montei uma plataforma de lançamento de mísseis político-culturais. E não vou parar de lançá-los."
E que não pare mesmo. Mais do que o bom senso, quem agradece são os leitores que cultivam o deleite pelo estilo refinado da escrita mesmo diante de temas tão espinhosos.