Mateus.Siqueira 01/01/2024
Aflitivo, no mínimo
Realmente, é difícil sair ileso de um leitura dessas. Para mim, não foi aterrorizante, mas, com certeza, foi perturbadora (e até mesmo repulsiva) em alguns momentos. Ainda que o livro tenha um ritmo chato até a sua metade, a escrita é bem detalhista e procura dar conta de várias tramas que circundam o mesmo evento: a suposta possessão demoníaca de uma criança aos 12 anos de idade. Alguns personagens são muito interessantes, como o empregado de meia-idade Karl Engstrom e o padre jesuíta de fé abalada Damien Karras. Porém, outros são simplesmente insuportáveis de acompanhar, como o detetive William Kinderman. Devido a complexidade das cenas descritas durante o processo de possessão da menina, William Peter Blatty fez milagre com o roteiro do filme. É perfeitamente concebível as histórias da recepção do público ao filme de 1973, desde os ataques de pânico aos desmaios, a histeria coletiva que tomou conta de sessões lotadas de cinemas no exterior. Passados mais de uma década do seu lançamento, nada no gênero do terror foi capaz de construir uma atmosfera tão bem feita de medo e suspense. De volta ao livro, essa é uma história pesada, difícil de ser digerida. Trata sobre a dor de seres humanos comuns, o luto, a culpa, o regresso de questões não resolvidas do passado. E é inteligente! A narrativa é construída de tal forma que os leitores também se questionam se esse é um caso de possessão espiritual ou se é uma manifestação violenta dos sintomas de uma doença mental rara e séria. No filme, não há dúvidas, a menina está mesmo sob cárcere de um espírito maligno. No livro, as coisas são muito mais complexas. Mas, sem dúvidas, essa é uma leitura para se fazer uma única vez. Se for fazê-la, boa sorte, é preciso estômago forte para ler algumas páginas.