stt4r 11/04/2023
Brutal, mas necessário.
Tá, eu diria que esse livro é com toda certeza um Lolita (Nabokov), o qual é contado na visão do abusador, porém em "Minha Sombria Vanessa" é narrada a visão da vítima, da Vanessa.
É importante entender que ambos os livros NÃO romantizam as situações propostas de maneira alguma, mas fazem o leitor criar um senso crítico acima do livro, além de mostrar, mesmo que de maneira fictícia, como funciona as mentes de ambos, tanto da criança/pré adolescente, quanto do homem que acaba manipulando a mesma.
O livro, por possuir uma escrita contemporânea, facilita muito o entendimento (para aqueles que não conseguiram ler Lolita, uma vez que a escrita é totalmente erudita) da narrativa, ainda mais por "estarmos" na mente da Vanessa, uma menina de 14 anos que não possui amigos, é socialmente excluída (tanto por ela mesma, quanto pelos outros) e se sente solitária. Esses pontos são extremamente importantes para entender o porquê de ela ter aceitado tudo isso por anos, até mesmo adulta.
A história de Strane e Nessa começa de uma maneira mais sutil que, conforme vai passando, se torna algo mais íntimo, com toques, e é a partir desse momento que o livro se torna, para a maioria, algo mais "asqueroso". Porém, temos que entender que desde o COMEÇO dessa aproximação dos dois já é algo a se reparar e questionar: isso é mesmo algo normal? Strane gostava mesmo de Nessa, e nunca quis lhe fazer mal? Ele realmente se apaixonou por ela? Nada disso foi manipulado por ele, sabendo que uma garota solitária de 14 anos é mais propensa a ser carente e buscar validação ou alguma forma de alguém amar ela? Bom, são muitos pontos para se questionar, mas a resposta sempre terá a mesma direção: Strane possuía uma mente doentia, sentia atração somente por crianças/adolescentes, e usava métodos para manipular essas vítimas, de forma que ele sempre parecesse o correto.
O ódio que sentimos pelas atitudes de Nessa é algo totalmente normal para quem está de fora, mas também é necessário entendermos ela, visto que foi manipulada e, como consequência, suas ações, pensamentos e falas foram todas projetadas por Strane, que entrou totalmente na mente da jovem. Assim como muitos abusadores, Strane aproveitou da situação de alguém frágil e fez com que ela se tornasse uma espécie de robô, que apenas segue seus comandos e não possui nenhuma consciência e, dessa forma, acaba por nunca questionar seu "mestre", mesmo que tenha as dúvidas de ele estar errado, ou não gostar de algo que ele faz.
O final do livro eu realmente não gostei, penso que, por ser algo fictício, poderia ter uma superação por parte da Vanessa em que ela finalmente entenderia que foi somente uma vítima e que tudo foi culpa do seu professor. Porém, sabemos que a realidade está muito distante disso, então não julgo o final da obra, o qual também achei muito bom, já que retrata de uma forma mais real o fim dessa situação.
É uma obra para quem tem estômago forte, realmente, mas o que mais cobra do leitor é a maturidade para entender a narrativa e simpatizar com a protagonista, por pior que fossem suas ações, e entender que esse trauma é algo que a vítima leva para a vida, então também não se pode julgar as escolhas da Vanessa em sua vida adulta.