spoiler visualizarCauany3 24/09/2021
O espelho e a Pandemia: divergências das almas humanas
No conto "O espelho" de Machado de Assis somos levados a refletir, dentre outras coisas, sobre como a essência e a aparência entram em conflitos na alma - ou nas almas - humana. O Jacobina ficou isolado por alguns dias numa fazenda e por isso se depara com a solidão. Ele então começa a sentir-se vazio devido à ausência de enaltecimento que recebia das pessoas por causa de seu status social, de modo que se depara com uma crise existencial no qual nem em frente ao espelho consegue identificar o seu "eu". Isso é só um pouco do que a história traz, mas é o suficiente. Então fiquei a imaginar como o Jacobina estaria em meio ao isolamento social que todos nós presenciamos por causa da pandemia. Quantas situações análogas aconteceram nesse tempo... Quantas pessoas - eu, inclusive - se deparou com a solidão dentro do cubículo em que mora e, consequentemente, quantos intensos momentos de reflexão foram obrigadas a ter mesmo quando o que mais queria era viver normalmente? Diferentemente da situação de Jacobina, nós tivemos em meio a solidão aparelhos que encurtavam o distanciamento, mas fico pensando sobre o que isso deveria/deve ter acarretando em nosso ser. Enquanto estávamos a sós em nosso lar, quais métodos utilizávamos para sustentar e até mesmo criar uma aparência de nós mesmos? Jacobina precisou vestir seu uniforme de militar para se olhar no espelho e conseguir "encontrar a si mesmo". Comigo, já me aconteceu de precisar abrir meu perfil no Instagram para conseguir me identificar, me reconhecer, ver o que as pessoas veem de mim. A solidão é traiçoeira. Como pode ela diminuir dessa forma minha essência? Como pode eu me basear em uma aparência ordinária para reconhecer meu interior? "Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro". Acredito que quando olhamos de fora para dentro tendenciamos a ter uma visão aparentemente bonita mas precária de nós mesmos, e nessa época de isolamento social passamos muito tempo observando somente dessa forma nas redes sociais nossos familiares, nossos amigos e nós mesmos. Claro, nosso exterior também faz parte do que somos, mas se só dermos importância a isso deixaremos de ser completos. Já quando olhamos de dentro para fora, acredito que, tendenciamos a se aprofundar cada vez mais na solidão por que nosso interior é como um poço sem fundo... sim, é meio pessimista mas quando nos jogamos dentro desse poço para encontrar a resposta de quem somos ficamos sujeitos a essa queda sem fim por que a reposta, quanto mais procuramos, mais distante fica de ser encontrada. Enfim, acho que tentar encontrar algum equilíbrio entre essas "duas almas" será a meta para o resto de minha vida - e da sua também. E repare bem quando for se olhar no espelho, talvez encontre um ser humano bem bonito - e bem ordinário também.