Rafael 07/03/2022
Obrigado, Poe!
Quando criança, lembro-me de passar horas jogando, com meus primos, "Detetive", um jogo de tabuleiro vendido à epoca pela Estrela. Seria o Coronel Mostarda quem matou a vítima com um castiçal, na sala de estar? Era uma hipótese, dentre várias presentes na nossa diversão.
O mistério e os elementos macabros que garantiram nosso total envolvimento ao caso criminal se deviam, em grande parte, a Edgar Allan Poe, escritor estadunidense considerado por muitas pessoas o "pai" do gênero detetivesco ou da narrativa policial, não pelo pioneirismo, mas pela popularização do segmento, exercendo grande influência em criações posteriores (Sherlock Holmes, Arsène Lupin etc.).
Nos contos "Os assassinatos na rua Morgue" (1841), "O mistério de Marie Rogêt" (1842) e "A carta roubada" (1844), acompanhamos o Monsieur C. Auguste Dupin, jovem erudito que, devido a uma série de adversidades, fora reduzido a estado de pobreza (foto 04), cooperar ativamente para a elucidação de casos intrigantes.
Dupin tem uma "habilidade analítica peculiar" (p. 27)! Tal como um jogador de xadrez, sabe que "em nove de dez casos, é o jogador mais concentrado, não o mais arguto, que sai vitorioso" (p. 20).
Atento aos truques da mente (fotos 05-06) e avesso às generalizações ou abstrações que desprezam os detalhes (fotos 07-08), ele nos ensina que "uma parte vasta da verdade, talvez a maior, emerge daquilo que aparenta ser irrelevante" (p. 141).
No processo investigativo, outro erro a justificar muitas vezes o fracasso policial consiste na desconsideração da forma como pensa o criminoso. A partir da história de um menino, de cerca de 8 anos, cujo êxito em adivinhar o resultado do ?par ou ímpar? atraía admiração universal (foto 09), Dupin discorre sobre identificação e a importância de se mensurar o intelecto do suspeito (foto 10).
Em todos os casos, como quem deposita esperança na ciência moderna para "prever os imprevistos" (p. 141), de alguma maneira ocorre, ao fim, a "restauração da ordem".