spoiler visualizarGildo 23/01/2020
Um mapa da turbulência
O anúncio de um livro sobre os bastidores de um governo geralmente cria a expectativa de revelações de impacto, segredos inconfessáveis, conchavos que estavam na frieza das sombras, àvidos pela luz da imprensa. Ainda mais numa polarizada bolha política, na qual vivemos hoje. Mas o governo Bolsonaro é um ponto fora da curva. O primeiro ano da gestão foi escancarado nas redes sociais, com declarações em volume máximo, em recados discretos como elefantes num campo de margaridas. E é por isso que o livro revela menos, mas lista muito bem a agonia de uma equipe novata, perdida, histriônica e paranóica.
Poucos governos democráticos tomaram para si um modelo tão claramente bélico como estratégia: os discordantes são inimigos, cada decisão é uma batalha, traidores são sentenciados e subjulgados por hashtags e emojis, confiança é rara, armas são a destruição moral do oponente, não o debate de argumentos. 'Tormenta', ao listar os episódios tão turbulentos do governo, mostra tudo isso. E isso é muito. Quando enfileirados numa, sequência ritmada, a retrospectiva, contextualizada com conversas e detalhes aqui e ali, mostram a paranoia ideológica e o despreparo da equipe eleita.
Há momentos mais desconhecidos e obscuros, no livro, como uma tentativa de golpe dentro do próprio governo. Estaria em curso uma deposição? A proximidade das autoridades de dois poderes da república seria uma troca de favores, no não-tão-distante estilo da 'velha política'? Os bastidores nunca são exatamente claros porque vivem da incerteza, obviamente. Mas o livro faz bem em registrar essas vertentes porque mostram uma sensação que todos tivemos: foi um ano turbulento, com furacões gerados o tempo todo pelo próprio governo. O mito que chegou ao poder veio sem plano de voo, apenas com uma metralhadora. Não ajuda muito contra os incêndios que insistem em aparecer