Pedro Nunes 06/08/2010
Precursor de Stephen King
A Outra Volta do Parafuso é um livro curioso, composto por alguns elementos narrativos que não se explicam, deixando o leitor, ao fim, com a obrigação de determinar, por conta e risco, o que ocorreu na história que ele acabou de ler. Desde questões maiores - a preceptora enlouqueceu ou as visões eram reais, se é que "real" tem algum significado numa história dessa natureza? - até dúvidas menores, que podem ser facilmente ignoradas - quem eram aquelas pessoas na reunião no começo do livro, e têm realmente peso e relevância a ponto de ocuparem o momento inicial da história?
Infelizmente não tive ainda contato com outras obras de Henry James, de modo a identificar se essa maneira sutil de conduzir e encerrar uma história - deixando ao leitor parte da responsabilidade em classificar os fatos narrados como reais ou imaginários, em determinar, por conta própria, se as impressões do narrador eram confiáveis ou equivocadas - faz parte de seu estilo ou se foi um feito particular a este livro.
Devido a essa natureza, o livro pode - aos olhos de algumas pessoas - perder boa parte de seu encanto. Existem leitores que não querem caminhar, discutir e repensar a narrativa: querem apenas que alguém os pegue pela mão e, de forma didática e determinista, aponte cada ranhura da história, cada detalhe, cada pormenor, dizendo o que é e onde se encaixa, deixando muito pouco para a imaginação. Esses certamente vão torcer o nariz para A Outra Volta do Parafuso.
Quem, entretanto, não se incomodar em, ao fim da história, se ver obrigado a definir, por conta própria, o que aconteceu no livro que acaba de ler, certamente aproveitará a história e considerará esse estilo subjetivo bastante divertido e desafiador.