Miguel Angelo 11/02/2013
Deus, um Delírio.
Clinton Richard Dawkins é um zoólogo e etólogo evolucionista nascido em Nairóbi no Quênia no ano de 1941. Eleito em 2007 uma das cem pessoas mais influentes do mundo, além de uma das cem pessoas mais brilhantes ainda vivas pelo The Daily Telegraph, Dawkins dedica uma grande parte de sua carreira na divulgação da ciência como a visão mais adequada para interpretarmos os fenômenos ao nosso redor e atualmente é o grande nome que endossa o movimento neo-ateísta. O livro Deus, um Delírio foi escrito no ano de 2006 e de acordo com o site da Amazon, causou um crescimento de 50% nas vendas de livros sobre religião e espiritualidade um crescimento de 120% no número de vendas da Bíblia.
Deus, um Delírio foi estruturado em três partes essenciais (independentes da divisão em capítulos). Inicialmente o discurso se organiza ao redor da possibilidade da existência ou não existência de um Deus pessoal ou coletivo. O autor aborda de forma extremamente lógica argumentos de refutem a possibilidade da existência de um ser supremo que tenha criado nossa realidade, entretanto a meu ver este não é o intuito principal do livro.
A Segunda parte do livro evidencia as implicações morais da religião, tal como o problema da doutrinação religiosa em crianças, como podemos ver no trecho abaixo:
“Um ano, na época do Natal, meu jornal diário, The Independent, estava procurando uma imagem apropriada para período natalino e encontrou uma de um ecumenismo reconfortante, uma peça escolar sobre a natividade”. Os Três Reis Magos eram representados, como dizia radiante, a legenda, por Shadbreet (sikh), Musharaff (muçulmano) e Adele (cristã), todos de quatro anos de idade. Lindo? Reconfortante? Não, não é, nenhum dos dois; é grotesco. Como qualquer pessoa decente pode achar certo rotular crianças de quatro anos com as opiniões cósmicas e teológicas de seus pais? Para entender, imagine uma foto idêntica, com a legenda modificada para o seguinte: "Shadbreet (keynesiano), Musharaff (monetarista) e Adele (marxista), todos de quatro anos de idade". Não seria essa legenda uma candidata a cartas iradas de protesto? Certamente. Mas, por causa do status estranhamente privilegiado da religião, não se ouviu nem um pio, como não se ouve em nenhuma ocasião semelhante. Só imagine a revolta se a legenda dissesse: "Shadbreet (ateu), Musharaff (agnóstico) e Adele (humanista laica), todos de quatro anos de idade".
Neste momento, o ápice da indignação do autor, Dawkins discute filosoficamente as implicações de uma vida sem divindades. Segundo o autor, o
ateísmo não implica em uma existência egoísta e desinteressada, muito pelo contrário, o ateísmo nos possibilita nos vermos todos como resultados de fenômenos circunstanciais que culminaram em nossa existência, logo, não há motivos para jihads, Holocaustos e discriminação (pelo menos não em função de uma verdade absoluta de cunho religioso).
Finalmente Dawkins já em suas últimas páginas declara seu amor pela ciência, e nos alerta de que se retirarmos a burca que atrapalha nossa visão, poderemos ter acesso à verdadeira beleza que nos cerca e no melhor estilo Carl Sagan professa sua admiração e esperança no conhecimento científico, que segundo Dawkins é a ferramenta ideal para nos ajudar a ver além do monte do improvável:
“...Será que podemos, pelo treino e pela prática, nos emancipar do Mundo Médio, rasgar nossa burca negra e alcançar algum tipo de compreensão intuitiva além de meramente matemática daquilo que é pequeníssimo, grandíssimo e rapidíssimo? Genuinamente não sei a resposta, mas fico muito feliz de estar vivo numa época em que a humanidade tenta superar os limites do entendimento. Melhor ainda, talvez acabemos descobrindo que os limites não existem.”
O livro todo é escrito como uma mensagem de otimismo com linguagem acessível e fluida que motiva os especialistas e facilita muito a vida dos leigos. Dawkins não economiza argumentos para criticar toda e qualquer atividade religiosa, entretanto sempre deixa claro seu amor e respeito pelo ser humano. Deus, um Delírio é um livro que cumpre com excelência o papel que o foi designado e uma leitura imprescindível a ateus e teístas.