Rodrigo | @muitacoisaescrita 23/04/2020
Convidativo e extremamente necessário!
Ler este livro foi como levar um soco na cara. E isso pode ser interpretado em dois sentidos: primeiro, os fatos aconteceram muito rápido (isso pode ser bom e ruim), similar à rapidez de um soco; em segundo, a intensidade deste soco, em mim, não foi fraca.
Em “Ponto Cardeal” temos a vida de Laurent, sua esposa Solange, seu filho Thomas e sua filha Claire. Laurent, ao decorrer do romance, descobre-se Lauren. Laurent conheceu sua esposa ainda quando eram jovens e, desde então, meio que sabiam que seriam “felizes para sempre”. A questão da transsexualidade é o foco principal da narrativa: como se abrir para sua família, já construída, estruturada, etc, e dizer que, na verdade, você é uma mulher?
Não desejo fazer um resumo do livro, pois acredito que, apesar das minhas críticas, ele merece ser lido por todas, todes e todos. Ao que diz respeito à minha primeira interpretação e que ela tem um lado positivo e outro negativo, acredito que, em parte, foi devido aos capítulos pequenos. A intenção da autora, creio eu, não foi fazer uma análise psicológica das personagens, tampouco entregar um livro “exaustivo”, mas, penso eu, trazer um romance “introdutório” para quem não sabe nada ou quase nada sobre a transsexualidade. Os livros têm uma capacidade de atuar sobre nossa alteridade e, desta forma, nos faz pensar sobre o outro; até porque nós, enquanto pessoas cisgênero, raramente questionamos as normas cisheterossexistas de nossa sociedade. Por outro lado, o romance pode parecer “raso”, por conta da falta de mais detalhes, mais descrições, etc. Ora, vejamos isso com um convite! Um convite para pesquisar mais, ler mais, se informar mais... A literatura e cultura trans é vasta, mesmo que invisibilizada. Na própria revistinha da TAG que acompanha o livro do mês de Abril temos algumas indicações – e já comprei algumas, rs.
Sobre a intensidade do soco, mesmo tendo capítulos curtos, me peguei fissurado na história. De fato é um livro que se lê rapidamente e, por isso, você deseja lê-lo mais e mais para saber o que vai acontecer no próximo capítulo. Em um desses capítulos, mais especificamente quando Laurent usa o dinheiro guardado por seus pais e que era designado aos estudos de seus filhos (guardado, inclusive, sem sua esposa nem ninguém saber) para realizar sua transição, peguei-me chorando. “Quer símbolo mais bonito do que usar a herança de meus pais para nascer de novo?”. Nascer de novo – essa é a questão. Os últimos capítulos são emocionantes, especialmente a atitude de Claire – não vou dar spoiler, leiam!
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