Carla.Parreira 12/03/2024
A coragem de ser feliz (Ichiro Kishimi e Fumitake Koga). Melhores trechos: "...Você ainda não aprendeu a ser feliz. Não teve coragem de ser feliz. Não escolheu o caminho da educação porque queria salvar as crianças. Você queria ser salvo por meio do ato de salvá-las.
Jovem: O que está querendo dizer?
Filósofo: Ao salvar outra pessoa, tentamos salvar a nós mesmos. Quem encarna uma espécie de salvador está em busca de compreender o próprio valor. É o tipo de complexo de superioridade a que sucumbem aqueles incapazes de se livrar do sentimento de inferioridade, o conhecido complexo de messias. É uma perversão mental querer ser um messias, salvar os outros.
Jovem: Não fale besteira. O que está sugerindo agora?
Filósofo: Contestar com irritação também demonstra um sentimento de inferioridade. Quando a pessoa se sente inferiorizada, ela tenta resolver recorrendo à raiva. Quando a pessoa está infeliz, salvar alguém não traz autossatisfação nem felicidade. Enquanto salva crianças, você ainda está imerso em infelicidade. Continua desejando compreender o próprio valor. Se esse for o caso, não vale a pena mudar de teoria educacional. Encontre a felicidade por conta própria...
Filósofo: Esta é a definição de respeito que surgiu aqui: Ter consideração pela pessoa tal como ela é. O que está na origem do respeito: acreditar ou confiar?
Jovem: Como?
Filósofo: Temos consideração pelo outro tal como ele é, sem impor nosso próprio sistema de valores. Ao agir assim, aceitamos o outro e acreditamos nele incondicionalmente. Em outras palavras, confiamos nele.
Jovem: Respeito e confiança são sinônimos? Filósofo: Pode-se dizer que sim. Dito de outra forma, não posso confiar em alguém que não respeito...
Jovem: Posso tirar a máscara e o relacionamento se mantém. Mesmo que meu amigo cometa erros de vez em quando, não seria razão suficiente para nossa amizade acabar, porque ela se baseia na aceitação dos pontos fortes e fracos de cada um...
Filósofo: É preciso acreditar nos outros. Não estou falando da conduta passiva de engolir qualquer coisa. A verdadeira confiança é, sob todos os aspectos, uma abordagem ativa. A Bíblia diz não apenas para amarmos o próximo, mas para amá-lo tanto quanto amamos a nós mesmos. Se não conseguirmos nos amar, não seremos capazes de amar o próximo. Se não conseguirmos acreditar em nós mesmos, não seremos capazes de acreditar nas outras pessoas. Por favor, pense na frase com essa conotação. Você afirma que não consegue acreditar nas outras pessoas, mas isso é porque não consegue realmente acreditar em si mesmo.
Jovem: Está fazendo muitas suposições. Filósofo: Ser autocentrado não significa olhar apenas para o próprio umbigo porque gostamos de nós mesmos. Na realidade, é o oposto: como não conseguimos nos aceitar como somos, nos preocupamos apenas com nós mesmos e estamos sempre ansiosos.
Jovem: Então você está dizendo que me preocupo apenas comigo mesmo porque tenho ódio de mim?
Filósofo: Exatamente... Muitos acham que foi o destino que colocou aquela pessoa no seu caminho e decidem se casar por conta dessa intuição. Mas ninguém define previamente o destino. O que acontece é que a pessoa decidiu acreditar que foi o destino. Como observou Fromm: 'Amar alguém não é apenas uma emoção intensa, é também uma decisão, um julgamento, uma promessa.' Não importa como o encontro acontece. Se a pessoa decide construir o amor real a partir desse encontro e abraça a tarefa a ser cumprida por duas pessoas, o amor é possível com qualquer parceiro.
Jovem: Você não percebe que está fazendo pouco-caso do seu próprio casamento? Está dizendo que sua esposa não estava destinada a você e que poderia ter se casado com qualquer outra mulher! Afirmaria isso diante da sua família? Se a resposta for sim, então você é um niilista radical.
Filósofo: Não é niilismo, é realismo. A psicologia adleriana nega todo tipo de determinismo e rejeita o fatalismo. Não há ninguém enviado pelo destino. Não devemos esperar que essa pessoa idealizada apareça, e nada mudará pelo fato de termos esperado. Não pretendo ceder nesse ponto. No entanto, ao analisar os anos que passamos ao lado de nossas parceiras, é possível sentir que havia alguma coisa destinada. O destino, nesse caso, não é algo predeterminado nem que desaba sobre nós por acaso. Foi construído pelo esforço de duas pessoas.
Jovem: O que quer dizer com isso?
Filósofo: Tenho certeza de que você já entendeu. O destino é algo que você mesmo cria.
Jovem: Não é possível!
Filósofo: Não devemos nos tornar escravos do destino. Ao contrário, devemos ser os donos de nossos destinos. Em vez de procurar alguém enviado pelo acaso, construímos relacionamentos que podem ser encarados como destinados a acontecer.
Jovem: Amor e casamento são duas pessoas dançando juntas.
Filósofo: Imagine uma pessoa que diz 'Eu gosto de flores' mas deixa que elas murchem por esquecer de regá-las, por não pensar em colocá-las em um vaso maior ou por não ajustar a quantidade de luz que incide sobre elas. Essa pessoa apenas dispõe o vaso como um enfeite da decoração. Pode até ser verdade que ela gosta de olhar para as flores, mas não se pode dizer que ame as flores. O amor exige mais dedicação. Isso vale para você, que evitou assumir a responsabilidade de quem ama. Você devorou o fruto de sua paixão sem regar as flores ou plantar as sementes. Esse é o amor hedonista e efêmero. Como diz Fromm: 'O amor é um ato de fé e todo aquele que tem pouca fé também tem pouco amor.' O amor é tudo. A pessoa que almeja uma vida fácil ou que procura o caminho mais simples pode encontrar prazeres fugazes, mas não conseguirá ser feliz de verdade. Somente quando amamos outra pessoa é que nos libertamos do comportamento autocentrado. Somente quando amamos outra pessoa é que nos tornamos autossuficientes..."