ricardinho 21/11/2022
Autossuficiência
Escrito por Kishimi e Koga, A Coragem de Ser Feliz é um diálogo entre um jovem e um filósofo sobre a busca pela vida plena, induzindo ao entendimento sobre a psicologia de Adler.
A conversa é iniciada com uma reflexão sobre a explicação do mundo. Para alguns, está nas realizações dos deuses e para outros, na abstração filosófica sem protagonistas. Então, a filosofia, como modo de vida, conduz constantemente à racionalidade e a questionamentos sobre o verdadeiro objetivo da educação: a autossuficiência. Assim, educar não é intervir, mas ajudar no percurso da autossuficiência. Para tanto, essa caminhada deve ser balizada pelo respeito, que nada mais é do que ver a criança como ela é, sem manipulação, e pela empatia, mas sem muito mimar as crianças, sob o risco de se criar uma geração infantilizada. Vejo esse ponto como algo a ser discutido mais profundamente, pois apesar de concordar que não há respeito na comunicação raivosa e violenta, tenho dúvidas se estariam as crianças prontas para terem suas decisões, seja quais forem, respeitadas. Então, no pensamento adleriano, uma das formas de auxiliar na formação de uma geração racional é incutir na mente dos alunos que as conquistas são suas, e não graças aos mestres.
Para Adler, também, os seres humanos não são movidos por causas passadas, mas o significado que se dá a esses eventos, determina a vida. Então, é perceptível, que algumas pessoas usam eventos ocorridos no seu passado para justificar fracassos e erros, estacionando em um presente distorcido. Por estarem acostumadas a não assumir responsabilidades pelo fracasso, rejeitam a autossuficiência e se agarram ao que não pode ser mudado, deixando de concentrar-se no que realmente depende dos seus atos.
Mas, apesar da crença de Adler na necessidade de se formar adultos independentes, ele deixa claro suas ideias socialistas ao falar que elogios levam à competição e isso é perigoso, pois sempre haverá alguém buscando o mérito. Deve-se, na verdade, estimular a cooperação, e não a competição, pois todos são iguais. Ele justifica o seu pensamento dizendo que devido à sua fragilidade bilógica, o homem sempre agiu em grupo para sobreviver, originando a sociedade. Além disso, a real importância do trabalho é dado pela a atitude que se tem em desempenhar tal serviço, e não pelo tipo. Para mim, esse nivelamento é contraproducente e pode induzir as pessoas à estagnação intelectual.
Outra orientação encontrada no livro é que ao invés de procurarmos aprovação, decidamos nós mesmos o valor do "eu" e, assim, seremos autosuficientes, pois se não se acredita em si, não haverá espaço para se acreditar nos outros. Esse pensamento libertador é positivo e está levemente em discordância com o pensamento central do próprio psicólogo: nivelamento de mentes e atos.
No último terço do livro, são encontrados conselhos e citações que realmente devem ser considerados. Normalmente, buscam-se a paz e a tolerância, no entanto são ignorados ou, até mesmo, humilhados os que pensam diferentes. Será que nessa busca da paz universal, o indivíduo lembrou de sorrir para o seu vizinho? Será que dedicamos nossos esforços de maneira contínua nas relações e encontros e, assim, tornamos a despedida o melhor possível (valeu à pena)?
"Quando se tem consciência do medo de não ser amado, o medo real, embrora geralmente inconsciente, é o de amar." Fromm.
Pela reflexão sobre a necessidade da autossuficiência, o desapego de desculpas mimizentas e a reflexão final, leitura indicada.
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