Ludmilla Silva 29/01/2023"You're movies and destiny and every stupid, impossible thing."Meu tipo de livro favorito é, sem dúvidas, aquele que pego para ler despretensiosamente, sem esperar muita coisa e acabo me surpreendendo bastante e amando tudo, e esse foi exatamente o caso com One Last Stop. Peguei esse livro para ler esperando ser apenas um romance LGBTQIAP+ clichê, e que alegria foi saber que ele era muito mais que isso. Camadas e mais camadas foram se desenrolando na minha frente e meu queixo caiu quando percebi que a premissa não se tratava apenas de um romance bobo e sim de um romance praticamente impossível, já que Jane é uma espécie de viajante no tempo, uma pessoa dos anos 70 presa nos dias atuais.
Confesso que fiquei um pouco receosa no começo sobre essa mistura de viagem no tempo/sci-fi com a história principal, pois eu queria algo descomplicado e de fácil leitura, mas que alegria foi estar errada. One Last Stop me trouxe um romance genuíno e maravilhoso, me trouxe gargalhadas, mistério e teorias, e uma mistura de emoções. E para um livro que é gigante, mais de 400 páginas, ele fluiu muito bem e bastante rápido, quando você se dá conta já leu bastante em uma sentada só.
Fiquei muito contente em como o livro trouxe assuntos importantes de forma muito natural, sem haver aquele aprofundamento e problematização, que por vezes podem prejudicar a história. O foco continuou sendo no romance impossível e na tentativa de ajudar Jane, mas assuntos paralelos foram incorporados tão organicamente que conseguiram melhorar positivamente a história, a exemplo de gordofobia, transfobia, xenofobia, medo de comprometimento, abandono parental, homofobia, entre outros.
São assuntos importantes que foram sendo introduzidos à medida que explorávamos o passado e o desenvolvimentos dos personagens, fossem eles protagonistas ou secundários. E eu amei os personagens secundários aqui, para mim quando eles são bem construídos e tendem a somar a protagonista ao invés de apagá-las é algo sensacional. De verdade, eu dava boas gargalhadas com a Myla, o Niko e o Wes, eles são o grupo de amigos perfeitos. E até personagens terciários como os funcionários da lanchonete, a mãe de August e o seu tio perdido também brilharam bastante.
Voltando nessa questão de amigos, eu achei os três incríveis. Essa rede de apoio que August tem em Nova York e a sensação de pertencimento e reencontro pessoal que ela vai desenvolvendo ao longo do livro foi algo lindo demais. Foi maravilhoso ver como ela era uma pessoa extremamente perdida, relutante e solitária até encontrar esse grupo e se ver como parte de uma comunidade acolhedora, sincera e genuína. Foi incrível.
Obviamente, esse crescimento da personagem também tem tudo a ver com a Jane. Eu a deixei por último, pois a amei tanto que não tenho nem palavras para descrevê-la. A Jane é aquela personagem que você não consegue odiar, ela é como Sol, onde todos os outros personagens tendem a orbitar ao redor dela, e onde o leitor quer saber mais e mais sobre sua história e seu passado. Foi interessante ver essa jornada da personagem, que começou como uma pessoa charmosa e superficial para alguém repleta de camadas, traumas e sentimentos escondidos.
O relacionamento dela com a August foi sensacional, com certeza entra na minha lista de casais preferidos de livros. O casal slow-burn é a melhor coisa para mim, pois você vê significado e tensão em cada pequeno gesto, vê os sentimentos sendo criados e desenvolvidos a cada página e ainda carrega aquela preocupação de saber se o romance vai ou não prosperar. Já na metade do livro eu estava me corroendo por dentro de nervoso em saber se elas ficariam juntas ou não, e devo confessar que amei o final. Parando para pensar era um pouco óbvio como ia terminar, mas eu estava pensando em várias outras teorias e fiquei feliz que nenhuma das minhas loucuras se concretizou.
Amei que a autora falou que este livro é o oposto daquele tropo nojento que existe na cultura pop: “bury your gays”. É o que ela caracteriza como “unbury your gays”, pois é uma história de romance LGBTQIAP+ que respeita seus personagens e traz apenas mais um romance lindo, que em tese deveria ser impossível, mas não foi. Fiquei muito feliz de ler essa história, é uma daquelas que aquece o seu coração, e já estou ansiosa para reler no futuro.