Igor Gil 13/12/2021
"A vitória da direita só é inevitável se pensarmos que é"
Eu esbarrei nesse livro por conta de uma indicação de uma indicação. O nome chamativo para aqueles que como eu são leitores assíduos de ficções científicas distópicas e pós-apocalípticas é uma isca muito bem colocada; mais ainda logo a primeira página do livro o autor citar nada mais e nada menos que "Filhos da Esperança". O que encontramos posteriormente é, talvez, ainda melhor (e pior), simultâneo ao fio de esperança que, por mas tênue, invisível e arrebentável que seja, une todas as distopias: a esperança.
Fisher tem um estilo de escrita bem "free style", deixando de lado determinados formalismos acadêmicos que vão desde um linguajar rebuscado e pedante aos inúmeros movimentos de citações e concretudes que separam fluxos de consciência anedóticos e ciência. Mas que fique claro, toda a influência que Fisher possui de Jameson, Deleuze, Guatarri, Zizeck e outros ficam claras, inclusive diretamente mobilizadas. Simultaneamente, temos um complexo emaranhado de ficções, livros e filmes, sendo constantemente citados e que são cruciais para entender o raciocínio do autor; e principalmente o conceito de hiperstição que responde a pergunta posta como subtítulo do livro.
Em capítulos estranhamente nomeados e mais ainda estranhamente organizados, Fisher nos guia por seus desabafos sobre o futuro, seus medos, sua depressão e como o imperialismo capitalista parece vencer, assim como sempre venceu, os resquícios de uma esquerda que ainda hoje luta para se reinventar e inevitavelmente fracassa; mas então para que lutar? A resposta está na mágica daquilo que é e daquilo que deveria ser.
O futuro é, e sempre foi talvez, um campo em disputa. Controlar o futuro é controlar o presente, mas não o futuro místico e astrológico que prevemos em instrumentos mágicos, mas sim o futuro imaginado, o futuro criado e, acima de tudo, o futuro creditado como verdade. O que faz do realismo capitalista a verdade em si é justamente a crença de que não h[a outra alternativa, não há outra escolha (frase repetida infinitas vezes pelo autor em todos os artigos do livro); mas é aqui que mora o ponto chave: o realismo capitalista precisa da crença de que ele é o único caminho, como uma profecia autorealizavel.
Realismo Capitalista deixa um gosto de amargura no céu da boca, mas também uma vontade fortificada de lutar contra o "real" imaginado. A herança de Fisher vive nos aceleracionistas de esquerda (ou fáusticos, como preferir), mas também vive nos fragmentos das identidades que pouco a pouco percebem e aumentam as rachaduras do próprio sistema, através de ferramentas que o próprio sistema fornece. Acelerar o inevitável, mas se apropriar da aceleração como de dentro para fora e de fora para dentro.
Que um dia, Fisher, em seu descanso cósmico possa ver as ruínas desse sistema opressor, o tiro final no sistema nervoso desse zumbi apodrecido comedor de carnes, futuros e humanidades; ou, simplesmente, que o movimento dialético-materialista da historia leve suas ideias àqueles que um dia findarão esse sistema.