Josy 28/08/2022
"Chirli, como a filha que nunca tive."
Essa é a história de Damaris, uma mulher colombiana que desejava ter filhos e nunca conseguiu, porém acabou experienciando um pouco da maternidade ao adotar uma cadelinha filhote e indefesa com um dia de vida, que tinha poucas chances de sobreviver.
É um livro curto, breve até, mas bastante doloroso e totalmente dúbio: a começar pelo cenário descrito com uma beleza quase onírica: um rochedo, uma angra, uma floresta, um céu límpido e um povoado à beira mar. E ao mesmo tempo, apesar de tanta beleza há a perigosa subida da maré, que carrega os mais desatentos, as tempestades intensas e assustadoras, a pobreza e a desigualdade social então sempre paira uma tensão e sensação de perigo em tudo que é descrito no livro.
Também é dúbia a análise que fazemos da protagonista, vítima e vilã de si, pela qual as vezes sentimos intensa compaixão para logo em seguida sentir um profundo desprezo.
Damaris é uma mulher cheia de traumas e frustrações, teve uma infância péssima, sem mãe, com um acontecimento trágico que mudou toda sua vida daquele momento em diante e a encheu de uma culpa permanente, um auto-desprezo, presente em quase todas as suas atitudes.
Também é bastante metafórico em tratar sobre as interações femininas, mães, filhas, mulheres casadas, sadias e doentes, há uma conexão entre elas, uma sutileza que permeia suas vidas e as aproxima apesar de tantas pluralidades, enfim, há várias camadas além do óbvio e é muito bom poder destrinchar as entrelinhas da obra.
Foi minha primeira experiência com a literatura colombiana, e preciso ressaltar que foi muito agradável sentir que em alguns momentos a história poderia se passar em alguma parte do Brasil, seja pelo cenário paradisíaco, seja pelas personagens tão parecidas com as mulheres reais da minha vida.