yuriwlls 28/06/2021
Nunca leia esse livro
Eu fiquei muito tempo pensando sobre como começar essa resenha, mas depois de várias tentativas acho que o melhor é só deixar rolar. Eu poderia começar falando tudo de ruim que tem nesse livro, que são muitas coisas, mas existem alguns poucos capítulos que serviram de combustível pra me dar forças e terminar essa bomba.
Foram 725 páginas escritas por uma mulher adulta, mas me lembraram aqueles livros infanto-juvenis, onde a personagem fala com o leitor e tem uma linguagem super infantil, de forma com que aproxime o leitor. Daria tudo certo, se não fosse um livro erótico, dedicado a um público adulto e com uma mentalidade totalmente diferente do que a narrativa entrega. Sem contar as 8393929 piadas sem graças que apareciam em cada parágrafo, eu me sentia vendo uma novela mexicana ruim, mas isso parece até uma ofensa as novelas mexicanas. Os diálogos desse livro, e pensamentos íntimos dos personagens, são pra lá de vergonhosos. Muitas vezes me fizeram imaginar uma menina de 13 anos escrevendo esse livro, de tanto que eu revirava os olhos lendo.
Mas, de uma forma um tanto atrativa, do capítulo trinta e quatro em diante, a forma de escrita da autora se tornou muito mais madura, as piadas sem graça chegaram até a aparecer com menos frequência. Tanto que eu até senti que duas pessoas completamente diferente tinham escrito as duas partes do livro. Mas apesar disso, o livro não fica mais aceitável. Confesso que me senti tentada a dar mais meia estrela por conta desses últimos capítulos escritos com mais maturidade, mas não podia apagar tudo que veio antes e, por incrível que pareça, depois.
Alguns pontos do livro, como eu disse antes, foram bem agradáveis, como a maturidade do irmão da protagonista, que consegue ser mais maduro que a irmã mesmo tendo cinco anos de idade, ao enfrentar sua situação causada pela leucemia. E toda a narrativa que a autora criou sobre isso, principalmente os últimos capítulos - os quais deixei escapar até algumas lágrimas. Mas o fim do garoto me desagradou e muito, demais mesmo, como se para mostrar que nem no melhor hospital do rio de janeiro, tendo o melhor tratamento possível e, ainda por cima, com uma doação de medula, não podemos ter esperança de dias melhores.
Sem contar que, enquanto o irmão de cinco anos sofria internado no hospital, a irmã transava 24h por dia. Dava claramente para ver que Melinda não estava bem, ela precisava de ajuda, conversar com alguém, mas não, todos os seus problemas eram resolvidos quando o esquerdomacho da rola quilométrica transava loucamente com ela, chega a ser cômico.
Mas bem, só isso não me faria dar apenas uma estrela. Tem as problemáticas também né, porque o que seríamos nós sem elas?
O livro acompanha o relacionamento de um homem de 35 anos com uma garota de 20, que acabaram se conhecendo por meio de um aplicativo de sugar daddys. Até aí tudo bem, não é o primeiro livro que apresenta uma grande diferença de idade ou trabalha com sites assim, encontros as cegas e etc. O problema está na EXTREMA infantilização da protagonista, chegando a ser desconfortável em várias partes. Tem até esses dois trechos aqui que eu escolhi mostrar:
"[*****] que pariu, Melinda está parecendo uma Lolita do [*****]."
"A quem quero enganar? Qualquer coisa que ela vestir vai me deixar duro, principalmente as coisas com estampas infantis, porque me tornei um pervertido."
O livro ficava a todo momento reafirmando o quanto Melinda era madura para a sua idade, mas isso estava longe de ser o que realmente aconteceu. Eu perdi a conta de quantas vezes o livro falou que a Melinda, personagem principal, se parecia com uma princesinha da disney, como era sapeca e, o pior de tudo, como o personagem principal sempre dizia ficar excitado com as roupas infantis da melinda.
Sem contar a banalização de alguns assuntos sérios, como estupro e tentativa de suicídio. O primeiro foi quando a personagem principal e sua melhor amiga babi, que acabou se tornando a vilã da história só porque o esquerdomacho disse que ela era ruim, estavam na praia observando o menino que a melinda gostava no começo do livro. Até ai tudo bem, mas dai a querida amiga babi resolve soltar a seguinte frase quando olha para ele sem camisa:
"Gato hein? Eu estuprava" ela brinca.
Vamos pensar sobre o quão problemático é isso, brincar com isso, e ainda colocar algo assim em um livro, onde várias pessoas vão ler e podem pensar que brincar com uma coisa dessas também é certo. Ainda mais considerando o quão grande é a porcentagem de pessoas que são estupradas por ano no Brasil, se não no mundo. Pior ainda é que a autora é uma mulher velha, crescida, que devia ter consciência de uma coisa dessas, mas achou que tudo bem colocar esse trecho em seu livro.
O mais engraçado é a porcentagem de 5 estrelas que esse livro tem na amazon. E, mesmo nas críticas negativas, NENHUMA pontuou isso. Cansa sabe.
E o problema do livro continua seguindo para a parte onde a autora claramente banaliza uma tentativa de suicídio por parte de uma personagem, que infelizmente não conhecemos, mas lendo a sinopse do segundo livro tenho total certeza de que ela vai aparecer e, ainda por cima, será vilã do livro. A personagem em questão é Isa, a menina com qual Victor perdeu sua virgindade e, após isso, passou alguns meses tendo uma espécie de amizade colorida.
Mas as coisas não deram muito certo e a garota acabou se apaixonando. Infelizmente para ela, Victor não era um homem de relacionamentos, e acabou dispensando a garota. Acontece que, enquanto contava essa história para melinda, ele solta a seguinte frase:
"Para mim estava muito tranquilo aquilo, ela demonstrava estar de boa, até que ela passou a ser rebelde, a ponto de se cortar, de fazer um monte de loucuras, por minha culpa."
Imagina, em pleno século vinte e um, junho de 2021, e chamar tentativa de suicídio de rebeldia. E o pior, da forma como a autora narrou, ficou como se a errada de toda a situação fosse a garota, mas tudo isso teria sido evitado se ela tivesse tido mais apoio do esquerdomacho do ano.
A sim, claro, também não podemos esquecer da cereja do bolo, a cena onde o cara a força a continuar fazendo sexo, mesmo após ela negar. Sexo consensual pra que né?
"Não vai rolar. Chega!"
"Vai sim, rolar muito" diz, segurando meu rosto.
Ou esse trecho aqui também:
"Seguro Melinda em meus braços e reivindico seus lábios. Ela solta um maldito gemido e eu acho que dessa vez é de medo. De qualquer forma, medo é uma palavra que desconheço, por isso sigo no embalo."
E a autora pensou que estava tudo bem colocar cenas assim, num livro onde tem uma diferença enorme de idade entre os protagonistas e a personagem feminina é extremamente infantilizada. Não, e eu pensando que eu era burra.
Eu nem vou entrar no mérito do relacionamento deles ser extremamente tóxico e o cara pontuar o livro todo como respeita as mulheres, seus direitos de escolha e etc. mas ser totalmente machista e controlador com ela. Acho que o ápice foi quando ele BATEU O CARRO em um poste só pra que ela não fosse ao médico falar com o doutor que cuidava do irmão dela.
Um exímio homem feminista!
Não, e o discurso de macho alfa, quando ela pergunta se ele era gay, pois ele nunca tinha tido um relacionamento antes e tinha conhecido ela em um site de sugar daddy em troca de fingir ser a namorada dele em um jantar de família. Dai ela pensou que era tipo uma máscara para não se assumir.
"Mas você é gay? É isso? Você quer esconder que gosta de homens e que tem uma namorada mulher?" E a vontade de mostrá-la o quão gay posso ser? Mas contenho o ímpeto.
"Eu sou heterossexual, se eu fosse gay contrataria um gay, numa boa. Minha família aceitaria, acredite. Mas eu gosto de bucetas, de preferência lisinhas e apertadas."
A dificuldade de dizer um simples não fica cada vez maior.
Enfim, provavelmente tem mais coisa, mas é isso que eu me lembro no momento. Qualquer coisa eu venho aqui e adiciono o que eu lembrar, mas no mais é isso. Não tive muito problema com a escrita em si do livro, apesar de encontrar algumas partes erradas no texto, mas não me incomodou tanto.
Meu conselho? Passe longe desse livro