Pandora 06/10/2022Este é o segundo livro de Guadalupe Nettel que leio e chego à conclusão que talvez seus escritos não sejam para mim. Sempre termino com a sensação de que ela quis tratar de vários assuntos, mas fica faltando alguma coisa, um aprofundamento.
No livro A Hóspede ela faz uma primeira parte primorosa, interessantíssima, que nos deixa totalmente envolvidos e boquiabertos, esperando o que está por vir. Aí amorna, e questões como a gerência de instituições para deficientes, os marginalizados sociais, o idealismo de uma sociedade mais justa e, principalmente, a abordagem do duplo, dos desdobramentos nas pessoas e na sociedade ficam um tanto atropeladas.
Neste La hija única, Laura (a narradora) e Alina são grandes amigas, tendo ambas vivido um tempo na França. Um dos motivos que as uniam era a decisão de não serem mães, o que de certa forma as colocava num grupo distinto daquelas conhecidas que abraçavam a maternidade. Mais tarde, já de volta ao México - para onde Alina retornara um ano antes - Laura se dedica à sua tese de doutorado e fica surpresa quando Alina lhe conta que ela e o marido estão há um ano tentando engravidar e que decidiram fazer um tratamento, ainda que fosse necessária a fertilização in vitro ou um transplante de óvulo.
Aqui, a autora trata de maternidade e amizade, de situações que nos colocam cuidando de alguém sem querer, situações em que os cuidados que teremos que ter vão além do que esperávamos, situações em que tudo muda de um dia para outro, situações sem controle. Mas mais uma vez senti que o princípio do livro foi cativante e depois foi amornando e se confundindo, até que eu estava desejando que acabasse.
A relação da narradora com a mãe, a depressão e passado de abuso da vizinha, o coletivo feminista, a situação do México, tudo é vapt-vupt. Numa certa altura, só a história da família de Alina me interessava.
Talvez se ela tivesse usado várias vozes narrativas? quem sabe?
A escrita de Guadalupe é fluida; ainda tentarei os contos, que não conheço.