bobbie 04/01/2021
Não vale a pena
Travei conhecimento deste lançamento através de anúncios do Instagram. Por se tratar de produto apoiado por uma editora, e pelo meu interesse em qualquer assunto relacionado a sexo, gênero e LGBTQIA+ (meus instrumentos de pesquisa), logo corri à Amazon para adquirir uma cópia. Por sorte, a versão e-book estava incluída na minha assinatura Kindle Unlimited, então decidi pegar o livro emprestado ao invés de comprá-lo. Ainda bem. Nunca imaginei que um livro lançado por uma editora pudesse ser tão amador, tão mal editado. O livro é coalhado de erros de digitação e de ortografia. Quando me deparei com um "amaçar" (sim, amassar), quase tive uma síncope. Só não larguei a leitura porque jamais deixo de terminar um livro, por pior que ele seja. E este aqui é muito ruim. Mesmo. Certo, ele tem seus méritos: retrata bem a vida de quatro jovens homossexuais do Rio de Janeiro e sua vida desenfreada em busca de sexo, curtição e curtidas, estilo hedonista que já se tornou o estereótipo da homossexualidade rebelde e não careta. Mas a tentativa vergonhosa de entremear a "narrativa" mal escrita com pensamentos filosóficos, com direito à fixação com um livro de Zygmunt Bauman e pinceladas em suas ideias, além do derrame de inúmeras menções a filósofos (como "Marilene" Chaui, ao invés de MarilenA) beira a tentativa de um estudante universitário de encher linguiça em sua monografia de fim de curso quando não tem nada o que dizer. O livro tem o seu valor, justamente no que se propõe a retratar a vida vazia de muitos gays que passam das boates às drogas, aos blocos de carnaval, ao culto vazio ao corpo e ao sexo e à desvalorização do conteúdo de pensamento, com doses de música pop duvidosa. Mas os inúmeros buracos na trama tornam a tentativa de escrever um "livro" vexaminosa. Alguém atenta perigosamente contra a própria vida e nada acontece. Outro tem uma overdose de drogas numa boate e nada acontece. Outro sofre um ataque de violência a ponto de ficar com o reto exposto e... sequer vai a um hospital (e, pasmem, um banho resolve!). Por fim, a quantidade de "livro" em forma de transcrição de conversa de whatsapp, com todos os seus kkk, rsrsrs, pontuação faltando e abreviações típicas faz uma tentativa (consciente?) de arrastar um livro para o universo dos aplicativos de conversa. Não menos irritante é a quantidade imensa de transcrições de letras de músicas no meio de texto, como se fosse uma transposição de trilha sonora cinematográfica para a mídia literária. Não dá.