Resenhas - Mais Parecidos: Príncipios

laisa 29/06/2021

Eu acompanho MPP desde a época que era uma fanfic no wattpad, então, em primeiro lugar, vale destacar o quão positivo é ver a evolução da autora, do Jason e da Lauren até essa versão-livro.

Na fanfic, a escrita da Clélia sempre foi espontânea e descomplicada, mas era também, às vezes, dispersa e prolixa em certas descrições e "passagens" de cena; não atoa a versão rascunho teve de ser dividida porque havia capítulos realmente extensos e aparentemente pouco construtivos na história. Nessa versão, a espontaneidade da escrita se manteve, porém agora potencializada por uma maior objetividade e funcionalidade para aquilo que o livro se propôs; porque além de tornar a leitura muito fluida, a escrita leve facilitou a imersão à atmosfera da narrativa: suave, praieira e com ar de clichêzinho coeso.

Coesão, na verdade, é o que eu usaria para descrever MPP de um modo geral: enredo, plot, diálogos, desenvolvimento da lauren e da relação dela com o Jason, com o pai, com os amigos... tudo é bastante preciso e interligado. Fica nítido que a Clélia, aqui, teve cuidado em articular os detalhes do passado da Lauren e da vida do Theo junto com as pressões e conflitos internos que ela sofre e como isso tudo gera, consequentemente, essa índole mais centrada, desapegada e independente na Lauren com todos ao seu redor, porque as coisas parecem ser muito pouco constantes na vida dela. Na versão fanfic, era possível perceber esses pontos e essas características, mas o que eu estou ressaltando aqui é o quão mais claro e preciso esse aprofundamento da personalidade da Lauren se apresentou. E como eu disse, como leitora da versão inicial de MPP, ver esse amadurecimento de personagem, e de enredo por consequência, dá um quentinho macio no coração.

Outra coisa muito positiva foi a dinâmica de Jauren (meu Deus eu sou tão apaixonada), toda baseada em um enemies-to-lovers delicioso, cheio de cenas cômicas e provocações clichês. Sobretudo porque esses aspectos passaram consoância com a idade e o amadurecimento de ambos: eles mal chegaram à maioridade, então, evidentemente ainda agiriam como adolescentes e não como adultos; os diálogos e as brincadeiras deles, dessa forma, não passaram a ideia de forçados ou discrepantemente infantis. Como eu disse: coeso. E o desenvolvimento da relação do Jason com a Lauren é um slow burn tão, mas tão deliciosamente sólido e coerente; havia cenas que você literalmente sentia a faíscazinha saindo dos parágrafos e viajando até você, e tudo de modo muito espontâneo e fluído. E isso é uma marca da Clélia inclusive, porque ela ama alongar desenvolvimento de casais, coisa que traz, naturalmente, uma tangibilidade ao envolvimento emocional deles entre si e, como consequência, deles conosco. Incrível.

Eu também gostei bastante do que autora fez com as piadinhas e comentários inconvenientes do Jason aqui, mantendo-os em certas situações (porque isso era uma das essências iniciais do casal), porém colocando a Lauren pra dar aquele sutil puxão de orelha nele sobre o teor sexista e machista de algumas dessas brincadeiras.

O livro usa em algumas falas/termos teoricamente misóginos [[*****] e etc], partindo da Lauren para a Emma, mas eu não problematizo isso tão a ferro e fogo pelo contexto que, evidentemente, pedia o uso desse palavreado, até pela definição literal do próprio ---- fala sério, trair seu namorado com o melhor amigo dele diz o quê sobre você? De qualquer forma, no entanto, acho que esse tipo de xingamento pode, sim, ser evitado posteriomente.

Agora, teve algo que se destacou negativamente pra mim: a falta de representatividade racial e sexual no livro. Fora a mera citação de que a mãe da Lauren traiu o pai dela com uma mulher --- o que não configura representatividade ---, não vi personagem que não fosse hétero, branco ou magro na história e isso foi, particularmente, um quesito que eu esperava uma melhora em relação à fanfic -- que não tinha esses aspectos---, mas acho um quesito também reversível porque é o primeiro livro de 3 (?) e tenho certeza que há outros personagens para aparecerem e se relacionarem com a Lauren ainda.

Além disso, acho que a pausa do epílogo de MPP para o livro seguinte foi mt condizente com o momento da vida da Lauren e com o momento do relacionamento dela com Jason. Mas percebo que muito dessa perspectiva minha de coerência acerca dessa "quebra" se baseia no meu pré-conhecimento sobre a história e sobre o timing no desenvolvimento posterior de Jauren (felizmente privilegiada) --- o que significa que para aqueles que não tiveram esse contato inicial, essa interrupção "aberta" talvez tenha sido anticlimática, porque foi logo quando as coisas entre eles iriam começar a acontecer realmente.