spoiler visualizarBianca.Ferroni 17/02/2024
Laranja Mecânica
Laranja mecânica é um obra literária distópica que conta a trajetória do protagonista Alex, dividida em 3 partes. A primeira parte descreve a realidade de Alex, nos introduzindo ao universo criado pelo autor, onde com uma liberdade surpreendente de um mundo altamente criminalizado, os natsats (adolescentes) são agentes propagadores de violência e ao mesmo os alvos dela. Alex faz parte desse grupo e ao longo dessa primeira narrativa, somos pegos de surpresa com a brutalidade de suas ações.
Entretanto, inevitavelmente, as consequências de seus atos chegam no capítulo 2, onde ele acaba respondendo por suas ações. Submetido à um novo método de tratamento subversivo, capaz de tratar a "maldade", vemos, nesse momento, um personagem dissimulado, apático e obstinado se transformar em um ser em seu mais puro desespero, capaz de fazer qualquer coisa para impedir sua dor.
Na terceira e última parte, transformado pelo método chamado Ludovico, Alex, agora solto novamente no mundo, precisa lidar com o seu novo ser em um mundo que aparenta estar pior do que anteriormente, e enfrentar seus antigos inimigos e alvos, que no passado ele humilhou, bateu e violentou.
Foi interessante o autor criar todo um dialeto para sua obra, o que de fato enriqueceu bastante a história. Como a língua é o instrumento de expressar desejos, vemos em Laranja Mecânica como ela pode ser distorcida por seus falantes em diferentes momentos. Ela foi capaz até mesmo de salvar e condenar nosso protagonista Alex. Apesar do estranhamento óbvio com o dialeto, a leitura não se torna complicada por causa disso, inclusive achei a escrita bem fluida e intrigante.
Outro tópico que trás uma discussão, é o ponto principal da trama; o tratamento Ludovico. Como dito pelo personagem Capelão (ou Chapelão), Alex nunca mudou seus princípios, ele apenas perdeu sua capacidade de exercê-lo sobre sua personalidade e ações, obrigado pelas dores de não cometer mais atrocidades. Porém, ele nunca, por desejo próprio, desistiu ou parou de pensar em algum dia retornar aos antigos hábitos. É como colocar em um cachorro uma coleira de choque que o atingirá toda vez que ele chegar perto do pote comida. Uma hora, acuado pela dor, o cachorro não vai mais atrás do objeto, mas isso não significa que ele não deseje ou precise (biologicamente) daquilo.
Uma reflexão que pude pensar sobre isso é que homem não nasce bom nem mal, mas é através de suas experiências, que ele decide seu caráter.