Coisas de Mineira 28/02/2023
PÁSSARO BRANCO, R. J. PALACIO – GENTILEZA, CORAGEM E ESPERANÇA
“Quando recebi Pássaro Branco, fiquei surpresa. Inesperadamente, eu nunca havia lido nada do universo de Extraordinário. Mas, a autora chegou até mim do jeito certo, na medida certa! Pássaro Branco é excepcionalmente emocionante!”
Em Pássaro Branco seremos apresentados à avó de Julian, Grandmère. Já Julian, é conhecido como o garoto controverso que, em Extraordinário, atormenta a vida de Auggie. O menino Julian é o principal perpetuador do bullying contra o protagonista. Entretanto, nessa Graphic Novel poderemos enxergar um lado diferente dele, que já teve medo de dormir
RESENHA DA GRAPHIC NOVEL “PÁSSARO BRANCO”
No livro “O Capítulo de Julian” a autora explana melhor sobre esse personagem, e apesar de toda crueldade que ele demonstra, seu coração é maior que isso. Dessa forma, ele precisa então de auxílio para se enxergar melhor. “Pássaro Branco” é então, não uma história de redenção, mas sim um momento de descobertas.
Toda família tem uma história, tem raízes. E Julian, quando necessita realizar um trabalho escolar, entra em contato com sua avó. Ela fará parte desse exercício que o menino precisa apresentar. Mas, sobretudo, irá mudar a vida do neto. Vamos acompanhar?
TEMA SENSÍVEL PARA ALGUNS…
Saliento que essa história envolve as perseguições nazistas e o Holocausto. Caso você seja sensível a esse tema, embora seja uma Graphic Novel leve e emocionante mesmo com um tema tão pesado, é melhor se abster de tê-la em mãos. E por que eu digo ser uma GN leve?
Apesar das perdas que a perseguição nazista trouxe às famílias, em “Pássaro Branco” essas situações não são literalmente exibidas ao leitor. Os campos de concentração são sim mencionados, porém não se é explorado esses ambientes. E talvez para o que se propõe essa tenha sido uma ótima decisão.
A avó de Julian é uma sobrevivente do Holocausto. E a GN se presta a contar a história da ainda garota, se escondendo dos nazistas no período da 2ª Grande Guerra. Hoje ela vive em Paris, e através de uma ligação de vídeo, neto e avó se conectam, mergulhando em um passado dolorido e muito, muito distante.
O HOLOCAUSTO ACONTECEU!
É bastante difícil entender como pôde existir pessoas que não acreditem que o Holocausto aconteceu. Todavia, R. J. Palacio vem como outros autores, nos relembrar de quão amedrontador e hediondo foi esse período da História da humanidade. Ah, ressalto que as ilustrações da obra são da própria autora.
Então, prossigamos, no momento em que os nazistas começam a deportar as crianças judias da cidade. Grandmère, ainda uma adolescente, consegue fugir da escola nesse momento. Ela é ‘salva’ por Julien, um garoto vítima de pólio, e geralmente excluído pelos demais.
E Julien, passando por cima de todos os perigos para si e seus pais, leva a adolescente judia para um galpão próximo de seu lar. Ali ela ficará escondida… Não imaginariam a quantidade de tempo! E foi muito superior do que eles poderiam imaginar.
Anne Frank influenciou milhares de leitores e autores
Acredito que para nós, leitores, é impossível ler qualquer material desse nicho, sem nos remeter a “O Diário de Anne Frank”. Para quase a grande maioria, esse foi o primeiro contato com as agruras do nazismo. Palacio também foi impactada com essa História, tanto como autora, quanto como ser humano.
Grandmère se chama Sara. E juntos de Sara, Julien e seus pais, iremos ver o tempo passar, o medo e a coragem coexistirem, e torcer para que dias melhores cheguem logo, de repente. Apesar de que já saibamos como foi uma época complicada e dolorida. O fato de a história ser a respeito da perseguição nazista, mas contada por uma adolescente, torna mais palatável. Entretanto, muito mais envolvente e emocionante.
Sara, agora avó, conta a seu querido neto que o que aconteceu em seus dias de adolescente, e que foi ‘uma campanha muito sistematizada de propaganda antijudaica’. O propósito desta campanha, era uma forma de desumanizar as pessoas judias, tentando os tornar estereótipos hediondos. E creio, pelo papel de Julian em Extraordinário, faz com que o garoto cresça como pessoa, como ser humano.
A PASSAGEM DE TEMPO AJUDA A CURAR, NÃO A ESQUECER
Julian liga para Grandmère em 2019. Sara viveu seu período de desolação em 1941. Vivemos ao mesmo tempo duas realidades como se fosse o hoje, o agora. E não há como não se emocionar com os relatos de uma das maiores, se não a maior, atrocidade da nossa existência. E mesmo com todo o perigo que Julien e sua família enfrentavam diariamente, conseguiram ter uma história linda com Sara.
A família de Julien literalmente salvou Sara da morte, da eliminação em massa. Ela saiu de casa naquela manhã de 1941 para ir à escola, pois era mais um dia como qualquer outro. E a tristeza mora em ela não saber que dificilmente encontraria sua própria família novamente… Mas a marca que Julien deixa em Sara aqui em “Pássaro Branco”, marca a garota.
Tanto seu filho, quanto seu neto Julian, tiveram seus nomes em homenagem ao garoto com pólio, que sofria bullying na escola, Julien. Uma linda história de desenvolvimento, crescimento, tragédias e amor. Através de um monte de palha, dentro de um celeiro, Sara aprendeu a olhar a vida com outros olhos. Envolta em tanta maldade, Sara compreendeu o que a bondade é capaz de fazer.
OS ENSINAMENTOS PRECISAM DAR FRUTOS
“Pássaro Branco” está aqui para nos ensinar que através da bondade e da empatia, podemos transformar vidas. Podemos validar nossa humanidade! Julian, que agora acreditamos seja um ex-bully, poderá agir contra as injustiças, e ser porta voz da bondade. Um legado que sua avó, Sara, o estendeu.
Em suma, a edição de “Pássaro Branco” é linda, de uma qualidade ímpar. Tem um tamanho grande, maior que o padrão para livros. Reitero a respeito da ilustração… Pois a autora consegue nos fazer apaixonar com a expressão artística tão bem quanto o envolvimento com a escrita. Recomendo muito, e atribuí nota máxima a essa experiência.
Por: Carol Nery
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