Nina Souza 04/11/2022
Um livro forte, cru e penetrante.
Esse livro é um processo de restauração. Não há como defini-lo de outra forma. A personagem precisa se destruir para se reconstruir, e não há nada melhor do que isso do que fazer com que o leitor encontre a realidade dentro da ficção. O meu maior questionamento é: por que não estamos falando desse livro?
O nome da protagonista é Mariana, mas, apesar disso, o leitor é capaz de nomeá-la de diversas formas: nomes de conhecidas, de desconhecidas, de familiares, amigas e até mesmo de casos de mulheres distintas ao longo da história. O motivo? Ela se envolve em um relacionamento abusivo em diversos aspectos de sua vida.
É um livro difícil de ser ingerido, principalmente pela fluidez narrativa e bom desenvolvimento que ele possui. A construção entre ficção e realidade, os dados apresentados, o sentimento de revolta, indignação e medo. Tudo é real. Tudo acontece. A cada dois segundos uma mulher é agredida em nosso país. Até que ponto a Mariana é simplesmente uma mera criação do autor?
Contém cenas de nudez, uso de drogas e violência [+16]. Acima de tudo, possui uma mensagem de superação que pode ajudar diversas mulheres através da literatura. A história de Mariana, seus relatos, medos, flashes e escolhas podem fazer com que mulheres se ergam, se encontrem, se inspirem.
Precisamos falar sobre machismo, feminicídio, depressão e violência doméstica. Na literatura e fora dela, principalmente com a maestria do autor: com sensibilidade, pesquisa e doses de realidade que as pessoas, em muitos casos, tentam evitar. Precisamos ajudar, denunciar, dar oportunidade e voz para essas pautas para que consigamos reverter o quadro alarmante em que vivemos atualmente.
É um livro forte, intenso e com uma história de superação e autodescoberta que é lindo de ser lido, refletido e valorizado. Um livro que prova a relação intrínseca entre a história e a ficção, mas mais que isso, que mostra o que a ficção também pode fazer pela realidade.
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