Thales Moreira 25/07/2022Em Maisie Dobbs, Jacqueline Winspear nos apresenta a personagem-título do livro, a investigadora e psicóloga Maisie Dobbs. Passado durante o período da Primeira Guerra Mundial e seu pós, Dobbs é uma garota de origem humilde, que vê sua vida tomar um rumo inesperado quando Lady Rowan, sua patroa, descobre que ela tem visitado a biblioteca da casa às escondidas para estudar e decide que vai colocá-la sob os cuidados do Dr. Maurice Blanche, um grande amigo e estudioso.
Sob a tutela de Blanche, Maisie Dobbs desenvolve suas habilidades de observação e aprendizado, e logo vê uma nova reviravolta acontecendo, quando é aceita na Girton College, a universidade para mulheres dentro da Universidade de Cambridge. Durante seu tempo na instituição, estoura a Primeira Grande Guerra e Maisie decide, após ser influenciada por sua colega de quarto, Priscilla Partridge, colocar seus estudos em espera e se alistar para ser enfermeira nos hospitais de atendimento a feridos da guerra. Após o fim da guerra, com uma quantidade excepcional de bagagem emocional e traumas, Maisie Dobbs termina seus estudos e, após um período exercendo a profissão de investigadora com seu preceptor Dr. Maurice Blanche, começa a dar seus próprios passos na carreira.
Em seu primeiro caso sozinha, Maisie se depara com algo que chama sua atenção. Após ser contratada para descobrir se a esposa de um empresário está sendo infiel, ela se vê cara a cara com uma organização aparentemente beneficente, mas que lhe deixa com grande desconfiança. Dobbs, então, começa a investigar O Retiro, um lugar para onde diversos ex-combatentes com graves deformações decidem ir por não sentirem mais que se encaixam na sociedade. Apesar da aparência de tranquilidade, contudo, a instituição esconde segredos nada condizentes com o que propõe.
Maisie Dobbs tinha tudo para me deixar extremamente satisfeito, um romance de mistério, passado durante o período da Primeira Grande Guerra, com uma jovem investigadora no papel principal e uma capacidade de raciocínio e dedução equiparável a diversos grandes detetives. Porém, tive uma leve decepção com alguns pontos do livro e ainda não consigo me decidir se ele entraria em séries que desejo acompanhar ou nas que deixarei de lado.
O primeiro ponto que me incomodou profundamente foi a estrutura do livro. Winspear começa a história no momento pós-guerra, com Maisie Dobbs abrindo seu próprio escritório como investigadora particular e logo recebendo o primeiro caso, que apesar de parecer uma simples situação de affaire extraconjugal, se mostra algo mais profundo. E, na sequência da solução rápida desse primeiro caso, Maisie se vê envolvida em outro ligado a ele. Entretanto, é então que vem a grande surpresa (pelo menos para mim) na construção da história, pois bruscamente nos vemos enviados ao “passado” e conhecendo a história pregressa de Maisie Dobbs, tudo o que levou a personagem ao momento inicial do livro.
Não seria nada excepcional e que outros livros já não tenham feito, contudo, Winspear comete o erro, novamente do meu ponto de vista, de manter esta linha da história durante um longo período, sem retornar ao enredo anterior, que contém o mistério propriamente dito. Quando deixamos a história que seria a principal, estamos no capítulo sete, sendo retomada apenas no capítulo vinte e um.
Outra questão, que não é um problema, mas apenas uma preferência pessoal, é o enfoque maior no lado do desenvolvimento emocional da personagem do que no próprio mistério.
Talvez por ser o primeiro livro, não tenha ficado tão explícita a necessidade desse desenvolvimento para o lado investigativo da história. Entretanto, essa falta de ligação deixa o livro sem conexão com o que deveria ser o assunto principal.