Carol 15/01/2023Impressões da CarolLivro: As margens e o ditado {2021}
Autora: Elena Ferrante {Itália}
Tradução: Marcello Lino
Editora: Intrínseca
128p.
Na prefácio que escreve à edição da Cia das Letras de "Léxico Familiar", de Natalia Ginzburg, Alejandro Zambra afirma "que há livros que provocam em seus leitores o desejo de escrever". É este o caso de "As margens e o ditado", de Elena Ferrante.
São quatro ensaios breves acerca do processo de escrita de um livro, das referências da autor, de suas inspirações, de suas reflexões, de seu cuidado com a própria obra. Na forma de um bate-papo casual.
Em "A caneta e a pena", ela observa Cecília aprendendo a escrever, para refletir sobre uma escrita aquiescente - ordenada, que aprendemos na escola e, geralmente, "masculina" - e uma impetuosa, desmarginalizada, convulsa. É o meu ensaio favorito.
"se eu queria ter a impressão de escrever bem, devia escrever como um homem, mantendo-me firmemente dentro da tradição masculina; mas sendo mulher, eu só podia escrever como mulher se violasse o que estava procurando diligentemente aprender da tradição masculina." p. 26
Nos ensaios "Água-marinha" e "Histórias, Eu", Ferrante nos dá um vislumbre de seu processo criativo. Como criar suas primeiras narradoras e enxergar-se nelas, permitiu-lhe imaginar: "a eu que escreve não como uma mulher que, entre suas muitas outras atividades, faz literatura, mas como exclusivo fazer literário, uma autora que, gerando a escrita de Delia, Olga, Leda, gera a si mesma." p. 56
Como lendo um livro de Adriana Cavarero, reparou na expressão 'a outra necessária' - este impulso das mulheres para se narrarem e sobre o desejo delas de serem narradas. E a partir da leitura de "A autobiografia de Alice B. Toklas", de Gertrude Stein, a amizade entre Lenu e Lila tornou-se mais corpórea, era a "Tetralogia Napolitana" formando-se em sua mente.
Por fim, Ferrante nos brinda com uma análise refrescante de A Divina Comédia, na figura de Beatriz, em "A costela de Dante". Como diz minha amiga genial @tatianne.dantas, os clássicos nos interessam à medida que possam ser profanados.
Leiam Elena Ferrante. Gênia.