Paulo 19/05/2023
Esse primeiro romance de Ana Paula é experimental e a escrita extremamente criativa, especialmente na ideia e forma que usou a pandemia para criar uma narrativa absurda - que é aqui uma espécie de autoficção, Ana também é personagem, forma literária em alta hoje, especialmente no nome de Annie Ernaux -, um tipo de realismo fantástico grotesco, no qual ela se relaciona com os animais suspeitos de serem o vetor de origem do coronavírus, não se limitando a descrever o compulsório processo de isolamento e as estatísticas de mortos e infectados. A esse processo ela também soma, mais ou menos superficialmente, uma comparação nas vidas das diferentes classes sociais sob essa grave calamidade global sanitária e econômica e faz críticas ao governo genocida, não nomeado, vigente na pior época em que ele poderia estar vigente.
"Deterioramento mental" é uma boa classificação que alguns críticos e sinopses deram à vida de Ana-personagem durante o isolamento.
Nesse experimento literário, Ana-autora insere diferentes tipos de textos, de diferentes formas, o que é muito interessante porque se deu liberdade criativa e tudo é muito bem escrito, porém o texto se torna tanto cansativo e entediante quanto difícil de entender, soma-se a isso histórias e personagens repentinos, especialmente no final, que me deixaram extremamente confusos, talvez minha "bagagem" etc. sejam demasiado parcas para entender as alegorias, referências e o significado de tais inserções na narrativa. Mas o fato é que antes da metade do livro a escrita absurda, confusa e difícil me tiraram a empolgação e vontade, mas insisti na leitura porque só as abandono quando são, geralmente, teorias/não ficção extremamente difíceis de entender, e olhe lá. Terminei o romance de Ana Paula quase sem prazer e aliviado em terminar.
Ele é, no entanto e reiterando, muito criativo e bem escrito.