Juju 26/07/2023
Mas afinal, o que são cultos?
A palavra cultos quase sempre nos remete a algo ruim, perigoso. Mas a verdade é que ao longo dos séculos o sentido da palavra foi sendo modificado e até nós não podemos definir com precisão o que são de fato os cultos, uma vez que eles se adequam constantemente às mudanças da nossa sociedade e, portanto, estão sempre em evolução. No entanto, os seres humanos por natureza são seres "cultistas", gregários. Muito no sentido de que estamos sempre procurando nos encaixar em um grupo, pertencer, fazer parte, compartilhar ideais ou interesses com semelhantes. Possuímos dentro de nós uma necessidade de encontrar a própria identidade e por vezes essa busca nos coloca em crise, de modo que este pode ser um processo difícil e que nos deixa perdidos em meio a um turbilhão de infinitas possibilidades em um mundo tão vasto e tecnológico logo, fazer parte de um culto pode oferecer um norte, uma direção. Sendo assim, cultos não são necessariamente perigosos ou nocivos, na verdade, muitos grupos que conhecemos hoje podem se configurar como cultos, como por exemplo as academias com seus jargões e rotinas estipuladas. Mas é justamente a partir da linguagem de que se utilizam que podem ser capazes de convencer, conquistar e até manipular pessoas se assim desejarem. E é a partir dessa noção que Amanda Montell, linguista experiente, irá nos conduzir por uma valiosa e importantíssima jornada a fim de compreender como essa linguagem tão única pode ser moldada e explorada para todo o tipo de objetivo, desde ajudar pessoas e transformar suas vidas para o bem, até para convencê-las a cometer os mais brutais tipos de atrocidades como atos de violências, suicídio e assassinato.
Amanda Montell é uma escritora, pesquisadora e linguista americana que vem ganhando notoriedade, ela tem até mesmo um contrato com a FX para a adaptação de um seus grandes sucessos: um guia feminista! Em Cultos, o objetivo da autora é desmistificar tudo o que conhecemos sobre essas peculiares estruturas sociais e deste modo nos ensinar a respeitar as pessoas que fazem parte deles, compreender suas motivações, afinal, eles não são idiotas ou acéfalos como muita gente - a maioria - acredita por aí. Acredito que é um livro que todos deveriam ter a oportunidade de ler em algum momento da vida, porque eu mesma aprendi muita coisa de que não fazia ideia, principalmente fiquei com vergonha da minha ignorância e do meu egoísmo, porque ao escolher priorizar e ouvir a voz do meu preconceito me tornei incapaz de nutrir empatia e ter um raciocínio crítico sobre tudo o que envolve os cultos/seitas. É fácil você julgar e condenar os indivíduos que, por exemplo, perderam suas vidas na tragédia de Jonestown ou os séquitos da Família Manson que cometeram assassinatos terríveis em nome de um líder excêntrico. E parte do motivo pelo qual tememos tanto os cultos se dá porque apenas os nocivos ganham uma espécie de notoriedade, a gente não ouve muito falar daqueles que não fazem mal a ninguém ou até auxiliam em alguma coisa. Mas você já parou para pensar que as academias, as redes sociais e até mesmo aquele seu clube do livro online podem se configurar como cultos? E tendo como isso base então, por quê é que alguns se tornam ruins e outros não? Seus seguidores são tão alienados, sofreram tamanha "lavagem cerebral" (expressão que você vai aprender a condenar após ler esse livro) que simplesmente não conseguem mais se desvincular? Por trás de tudo isso, das aparências, das regras e das polêmicas existe um conjunto de elementos extremamente complexos e intimamente ligados à linguagem que permitem, ou melhor, criam o território perfeito para que práticas nocivas se perpetuem, e as pessoas que estão ali muitas vezes não buscam fazer o mal, elas apenas precisam encontrar um propósito. Só que a partir do momento em que esse propósito começa a tomar conta da sua vida, te isola das pessoas e da sua própria realidade, não permite que você faça escolhas ou questione, tenha um pensamento crítico, bem... Aí estamos falando de um culto nocivo! E o mais legal sobre essa obra em específico é que você vai aprender a identificar os fatores que compõem grupos assim, para não se tornar mais uma vítima. Uma leitura que teria tudo para ser bastante densa e talvez até cansativa, é extremamente viciante e acessível, permeada pelo bom humor e toques sarcásticos de uma autora maravilhosa. Eu recomendo esse livro para todo mundo!