A outra filha

A outra filha Annie Ernaux




Resenhas - A outra filha


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Marcelo 09/10/2023

Resenha publicada no Booksgram @cellobooks ?
Confesso que dos livros de Annie Ernaux que li até o momento, "A Outra Filha" foi com o qual eu mais me envolvi. Trata-se de livro resultado de um convite recebido pela autora para participar da coleção francesa Les Affranchis, onde escritores são convidados a escrever a carta que nunca foi escrita. Neste caso, Annie Ernaux usa essa oportunidade para abordar um trauma de sua infância, que até então ela mantivera em segredo.

No verão de 1950, quando Annie tinha apenas 10 anos, ela escutou uma conversa entre sua mãe e uma cliente, na qual descobriu um segredo perturbador: seus pais haviam tido outra filha antes dela, que morreu aos seis anos de idade devido à difteria. A mãe revelou à confidente que eles esconderam a existência dessa irmã mais velha de Annie para não entristecê-la, e ainda afirmou: "ela era mais boazinha do que aquela ali".

Ao longo dos anos, a existência dessa irmã nunca foi mencionada novamente, exceto por lapsos ocasionais de familiares. Annie também escolheu manter esse segredo, acreditando que o silêncio era benéfico para todos os envolvidos.

No entanto, quando recebeu o convite para escrever a carta que nunca foi escrita, Annie Ernaux viu a oportunidade de exorcizar esse segredo e o peso que a existência da irmã falecida exercera sobre ela ao longo de sua vida. Em "A Outra Filha," ela escreve uma carta dirigida à irmã que nunca conheceu, explorando seus sentimentos e reflexões sobre como a morte dessa irmã influenciou seu próprio nascimento e identidade.

Annie Ernaux examina profundamente o impacto dessa revelação e como isso moldou sua percepção de si mesma, sua família e sua vida. Ela pondera sobre como teria sido um mundo sem ela e qual seria o propósito de sua existência. O livro revela o processo de Ernaux de enfrentar suas próprias memórias e sentimentos, ao mesmo tempo em que questiona a ambiguidade entre a morte da irmã e o início de sua própria vida.

O resultado dessa carta/livro talvez seja seu maior diálogo de sí mesmo com a psicanálise, na tentativa de curar suas feridas, traumas e se reconciliar com quem é e pôde ser.

Super recomendo a leitura!
edu basílio 09/10/2023minha estante
ah, celo, que resenha bacana! eu nem ia ler este por agora e você me "obriga" a desafiar os limites do meu cartão de crédito ?


edu basílio 09/10/2023minha estante
que resenha bacana, celo! eu nem ia ler este agora mas vc me "obriga" a desafiar o limite do meu cartão de crédito ?


Marcelo 09/10/2023minha estante
Amigo, vou te falar que foi o livro dela que mais gostei até o momento




Bruno.Dellatorre 13/10/2023

Impactante do começo ao fim
Quarto livro da autora que leio, sem dúvidas o melhor até aqui. O estilo dela, que costuma impressionar pela crueza e sinceridade, aqui chega a causar espanto.
Ao falar da irmã morta, Annie consegue evocar todo o silêncio, a estranheza e o assombro que caracterizam sua ausência.
Prende o leitor o tempo inteiro, uma incômoda hipnose como eu nunca antes tinha visto - realmente uma escritora especial. A cada livro seu que leio, mais me sinto próximo dela. Temos um pensamento muito parecido. Ela descreve sensações que teve que eu também tive e nunca tinha visto alguém descrever de forma tão precisa.
Recomendo muito.
Bia 07/02/2024minha estante
Olá! Por qual livro da autora você me recomenda iniciar? Obrigada!


Bruno.Dellatorre 07/02/2024minha estante
Essa que resenhei mesmo acho uma ótima porta de entrada. Eu comecei com "O jovem", que foi bom mas é muito curtinho e esquecível. "Paixão simples" acho que também serve. Só não aconselharia "A vergonha", que pra mim foi o mais chato, nem "O acontecimento", que é tão chocante que até hoje não me recuperei




Icaro 09/09/2023

Humano como sempre
Último livro da autora publicado no Brasil pela Editora Fósforo.

Assim como os demais, a autora relata um momento da sua vida, especialmente a descoberta de que tinha uma irmã.

Ao se aprofundar em uma análise sobre a vida de sua irmã e a razão de sua própria existência, a autora se debruça na aleatoriedade da vida e seus caminhos.

Um livro breve, em formato de carta, mas muito profundo! Vale a leitura.
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Letícia 16/09/2023

A outra filha sou eu
Aos dez anos, Ernaux escuta uma conversa da mãe com uma cliente e descobre que antes dela seus pais tiveram outra filha, morta aos seis anos de difteria. A mãe relata que nunca contaram nada a Annie para não entristecê-la e confidencia que “?ela era mais boazinha do que aquela ali”?, comparação que a atormenta pelo resto da vida.

Em A Outra Filha, a ganhadora do Nobel de literatura de 2022 redige, a convite da coleção Les Affranchis, uma carta para a irmã morta. Algumas perguntas a oprimem e a motivam a escrever: por que a irmã falecida, tratada como santa, não sobreviveu, enquanto ela, que contraíu tétano aos cinco anos, conseguiu ser salva? Por que seus pais mantiveram um silêncio sepulcral a respeito da primeira filha, levando o segredo para o túmulo? Por que ela própria foi conivente e fingiu ignorar o acontecido?

Em diversos momentos Ernaux escreve em segunda pessoa, se dirigindo à irmã morta, porém com ela não consegue encontrar nada em comum. Ambas nunca compartilharam nada, uma vez que, quando Annie nasceu, a irmã já havia morrido há mais de dois anos.

“?Tenho a impressão de não ter língua para falar de você, para te nomear, impressão de só saber falar de você no modo da negação, do contínuo não ser. Você está fora da linguagem dos sentimentos e das emoções. Você é a antilinguagem.”?

Como em O Acontecimento, aqui também Ernaux nutre a crença de que episódios marcantes de sua vida aconteceram para que ela pudesse narrá-los: sua escrita não é a consequência, mas sim a finalidade da morte da irmã. E foi justamente durante a escrita de Os Anos, ao refletir sobre as restrições socioeconômicas de sua família e a necessidade de se ter apenas um filho, que Ernaux se deu conta de que veio ao mundo para substituir a irmã morta.

É, como se pode perceber, uma temática pesada, mas, como em outros de seus livros, a autora a aborda com a objetividade de quem, ao narrar a história familiar, narra a mentalidade e os costumes de toda uma geração. E, também como no resto de sua obra, ela chega ao fim do texto com uma conclusão que é uma pedrada na consciência do leitor.
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Lara BL 18/09/2023

Uma carta
A escrita de Ernaux me toca muito e esse livro em especial me balançou bastante por questões da minha própria história. A obra não se resume a um relato autobiográfico, mas sim a uma carta escrita a irmã que Annie nunca teve, cujos leitores somos nós.
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@limakarla 01/10/2023

Como é incrível estar viva na mesma época que essa mulher! Poder ler seus livros, um atrás do outro e ir sentindo que conheço mais e mais um pouco desse furacão que é a Annie. Mais uma história envolvendo a sua família mais próxima, seus pais, suas histórias entrelaçadas e que a colocam diante do desejo da escrita, numa tentativa de compreender algo de si e suas relações. Excelente.
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Daiane316 02/10/2023

Ernaux e seu texto catártico.
Toda vez que leio algo dessa autora, eu me emociono. Sei lá, simplesmente acontece de eu me deixar levar pelo seu desabafo, pelas suas vivências e perdas, que com ela eu tb me derramo.
Nesta pequena maravilha, ela discorre uma pequena carta póstuma a sua irmã falecida aos 6 anos de difteria. Esse fato era tido como um segredo entre seus familiares, e após descobrir, ela conviveu com o luto tardio de uma irmã que nunca chegara a conhecer. Esse relato é poderoso. Se engana muito bem quem pensa que por se tratar de um livro pequeno, o texto passa batido, pelo contrário, há dor, amor e reconciliação com seu passado e suas comparações, seus achismos e a saudade. Um lindo relato, uma carta a um ente que partiu cedo. Chorei e não foi pouco. Ernaux sabe como ninguém escrever sobre emoções e sentimentos. Recomendo a leitura.
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tamachunas 04/10/2023

?Estou apenas correndo atrás de uma sombra aqui.?

"Quando criança - é essa a origem da escrita? -, sempre achei que eu era o duplo de uma outra vivendo num outro lugar. E que eu também não vivia de verdade, que esta vida era 'a escrita?, a ficção de uma outra. Aprofundar esse ponto, essa ausência de ser ou esse ser fictício?
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Claudia 07/10/2023

Poderia ser uma crônica
Não foi o melhor que li da Annie Ernaux, fiquei com a sensação de que o assunto foi esticado para virar livro, caberia em uma coletânea de textos mais curtos.
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Danilo546 18/10/2023

Nome: A outra filha
Autora: Annie Ernaux
País de origem: França
Período de leitura: 14/10/2023

Comentário SEM SPOILERS: Que livro incrível, gente! De uma verdade e sinceridade surpreendentes, que prende o leitor até a última página! Eu li em literalmente uma sentada, pois me vi totalmente preso no desabafo de Annie Ernaux sobre sua descoberta de ter uma irmã mais velha, falecida antes dela nascer, e como isso afetou sua vida e sua personalidade. Foi meu primeiro contato com a obra da vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2022 e já quero ler outros livros dela! Amei e recomendo! ???
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acaciaverena 27/10/2023

"Não escrevo porque você morreu. Você morreu para que eu escreva, eis aqui uma grande diferença." "Só são verdadeiras as cartas endereçadas a pessoas vivas".
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Adélia 04/11/2023

A escrita direta e impactante de Annie Earnaux sempre me agrada. Neste livro podemos sentir todas as emoções que a autora carrega consigo por ter uma irmã que nunca conheceu e a falta que sentiu de ter esse diálogo com os pais.
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Gean 11/11/2023

Você está lá, entre eles, invisível. É a dor deles.
Tenho esse hábito de adiar o fim de livros que não quero que acabem. Fico postergando por muito tempo. E não seria diferente com este, adiei bastante.

A cada trecho é perceptível toda dor que a Annie carrega consigo. O questionamento sobre a sua existência, como se ela fosse uma substituta daquela que perecera, e a disputa desleal entre a morta e a viva.
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Ellie 16/11/2023

Segredo
Familia consegue esconder o falecimento da filha mais velha da filha mais nova, até que a filha mais nova descobre, mas esta nunca conseguiu conversar com os pais sobre o assunto.
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Aléxia 19/11/2023

A dicotomia de se tornar "a outra"
A carta que nunca foi escrita.

“É claro que esta carta não é destinada a você, e você não vai lê-la. Quem vai recebê-la são os outros, os leitores - tão visíveis quando você no momento em que escrevo. No entanto, existe no fundo de mim um pensamento mágico que gostaria que, de modo inexplicável, analógico, ela chegasse até você assim como, há muito tempo, num domingo de verão (…), me chegou a notícia de sua existência por meio de uma história que também não se destinava a mim”.

Se é difícil pra mim escolher as palavras pra falar sobre esse livro, penso no processo de escrita da Annie Ernaux em acessar de um modo tão visceral e direto - em segunda pessoa - o trauma da irmã que morreu antes dela, e sobre quem seus pais nunca falaram.

Quando me perguntam qual o primeiro livro dela pra ler, eu sempre respondo O Lugar, como uma introdução ao modo de escrita, ou O Acontecimento, como a maior porrada que você vai tomar. Mas talvez A Outra Filha seja a nova resposta, por condensar em 64 páginas um dos mergulhos mais profundos que ela dá em si e no outro. É quase como acompanhar uma sessão de psicanálise.

Nesse sentido, lembro de comentar, quando soube o nome do livro, que era um mashup de Elena Ferrante com Annie Ernaux. Fiquei com isso na cabeça e agora, tendo terminado o livro, vejo que essa analogia vai até mais além. Existir através do outro, existir aos olhos do outro. Um outro que ela nunca conheceu, mas que determinou algumas das principais dicotomias que ela passou a viver, com dez anos, quando descobriu que era “a outra”.
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