Pati 18/02/2024Mata DoceEm seu romance de estreia, Luciany Aparecida nos traz a estória de Mata Doce, vilarejo do interior da Bahia, narrada de forma extremamente lirica e tocante.
O casarão em frente ao lajedo de pedra, rodeado pelo roseiral, é local de referência e vivência de mulheres fortes e espiritualidade elevadas.
A narrativa se alterna entre presente e passado, e no início as moradoras do lajedo, a professora Mariinha e sua mulher Tuninha vivem com sua filha adotiva, Maria Teresa. As personagens são tão complexas, tão lindamente construídas, que é necessário muito desapego para se despedir das mesmas quando o livro termina.
Maria Teresa é noiva de Zezito, rapaz branco e único filho homem da juíza Luzia. Já no início do livro, a autora nos mostra o abuso de poder e os conflitos de terra, a miséria e a ganância.
Um dia antes do casamento, Zezito é assassinado pelo coronel Gerônimo Amâncio, dono de terras e criador de bois. Maria Teresa, na última prova do vestido de noiva, ampara Zezito, manchando o lindo vestido com o sangue do seu bem querer.
A protagonista agora se torna Filinha Mata Boi, ressignifica sua vida e carrega todo o sangue vertido após a morte do noivo. Como a narrativa segue intercalando momentos passados, vamos descobrindo fatos muitas vezes perturbadores em relação à todos os personagens. E sempre o sangue continua jorrando, a mancha do vestido de noiva parece que nunca vai ser devidamente limpa.
A estória também alterna o relato em terceira pessoa e a narrativa de Filinha Mata Boi escrevendo em primeira pessoa quando já idosa, utilizando a antiga máquina de escrever dada a ela por Zezito ao concluir seu curso de datilografia.
Por mais que se diga em relação a esse romance, ainda faltarão fatos e personagens ( é injusto não mencionar a cadelinha Chula e a madrinha Lay). A narrativa é tão costurada em torno de si mesma que é difícil mencionar o principal sem contar o livro todo. Com certeza uma obra que deve ser lida e relida!