Thiago 07/05/2024
Poesia na argúcia
Este livro é uma expansão do conto "A Árvore Reluzente", publicado na coletânea "O Príncipe de Westeros e Outras Histórias". O autor pegou a história original que, mesmo com a presença de todos os seus temas, era simples e direta, e transformou em algo como "A Música do Silêncio" de forma brilhante.
Destaco, antes de mais nada, que não é necessário conhecer previamente o universo d'As Crônicas do Matador do Rei, a obra se sustenta por si só, apesar de que os fãs vão se deliciar com a leitura de algo que os entretenha um pouco enquanto o terceiro livro não chega.
O livro conta um dia na vida de Bast, seus contatos, aprendizados, trocas, seduções e desventuras. A forma como tudo se desenrola tem sutileza, melodia, harmonia e poesia de uma forma que só Patrick Rothfuss é capaz de criar. Bast, ao mesmo tempo em que é um ser de puro desejo e aparência de caos, é ligado a responsabilidades, dívidas e juramentos de forma profunda e intensa. Cada pequeno encontro, com seus diálogos e permutas é grave e jocoso; Bast cumpre todas as promessas e tratos de forma sincera e esquiva, correta e traiçoeira. E a evolução da percepção de Rike para o leitor é um sopro de ar fresco.
Uma qualidade do autor é saber lidar com o não-dito. Muita da magia da obra se encontra no terreno do insinuado, o que contribui para sua beleza.
Como ponto negativo, tenho de destacar o prefácio e o posfácio. Ambos são extremamente chatos e repletos de clichês e lugares comuns do autor. Ele repete a fórmula usada em "A Música do Silêncio": "provavelmente você não vai gostar deste livro, ele não é para qualquer um..." O que, por si só, já é algo extremamente sem graça dito por um escritor, especialmente se repetido. O posfácio continua com esse pretenso desdém por si mesmo, mas revela uma arrogância atroz e é prova de que um autor não precisa ser uma pessoa gostável para escrever livros primorosos.