Max 27/07/2022
Uma alegoria para o desconhecido
Desde que peguei gosto pelo realismo fantástico, esse é um dos livros que estavam na minha lista. A história se passa na pequena Manarairema, que se vê invadida por forasteiros e animais, que dominam a cidade, impondo pânico na população.
Diferente de Cem Anos de Solidão, em que o tom idílico domina, aqui é o clima sombrio de dúvida e medo que impera entre os moradores. O que os estranhos querem por essas bandas? A que eles vieram? A quem os animais obedecem?
O medo do desconhecido é tônica da obra. Mas um desconhecido que é mais que incômodo. Na verdade, simboliza uma ameaça iminente, inevitável. Sendo assim, não seria melhor fazer alianças com os próprios forasteiros, salvar a pele? Ou melhor resistir, por honra, orgulho, mesmo não sabendo que riscos se pode correr?
De imediato, me veio a associação com o conto A Casa Tomada, do Cortázar. Trata-se daquela situação incômoda, que pode acontecer a qualquer uma na vida e vai se instalando aos poucos. Quando se vê, perdeu-se tudo. Tão lentamente, tão suavemente, que, quando se percebe, não há mais como se reverter.
O contexto de lançamento do livro (1966), também me trouxe a alegoria do Golpe Militar de 1964, impressão que ficou bem forte para mim em algumas passagens. (Essa interpretação me deixou curioso para saber melhor do posicionamento político de José J. Veiga, mas não encontrei muita coisa na internet.)
A Hora dos Ruminantes não é tão densa quanto outras obras do realismo fantástico latino americano (penso aqui no já citado Cem Anos de Solidão e A Casa dos Espíritos), diria até que é um conto alongado. Porém, o texto corre fluído, com algumas pitadas de ironia, o que deixa a leitura ainda mais gostosa.