Rodrigo C. 07/12/2022
História revisitada
Através das trajetórias de Constantino I (imperador romano), Ário (presbítero de Alexandria, no Egito), Jan Huss, John Wyclif e Jerônimo de Praga (precursores das ideias reformistas) e Papa João XXIII, entre outros personagens históricos e anônimos, Lucius narra a trajetória de um grupo de exilados do Sistema de Capela que participou de diversos momentos históricos do Cristianismo.
Ao todo, são cerca de 1.700 anos de história, agrupada em 4 épocas diferentes: o Império Romano do Oriente, durante o Concílio de Niceia (Séc. IV); a região da Boêmia (atual República Checa, no início do Séc. XV); o estado da Pensilvânia (EUA), em meados do Séc. XIX; e nos EUA/Brasil, nos dias atuais. Estranhamente, o livro é divido em apenas 3 partes.
Na primeira parte, são abordados os bastidores que levaram ao Concílio de Neceia (atual Iznik, na Turquia), em 325 d.C. Antes dele, havia "cristianismos" no Império Romano e o imperador Constantino I instituiu o concílio para unificar as práticas e as interpretações religiosas com o objetivo político de dar coesão ao seu império.
Uma vez decidido por qual caminho o cristianismo devia seguir, a Instituição Igreja Católica Apostólica Romana foi formatada e tudo que fosse contraditório ao estabelecido no Concílio foi banido e seus seguidores perseguidos.
A segunda parte ocorre em dois períodos e duas regiões distintas (não entendi o porquê).
No início do Séc. XV, acompanhamos as vicissitudes de Verônica, considerada bruxa, assim como a sua mãe, por possuírem dons mediúnicos. Com a morte da mãe, passa por maus bocados até ser resgatada pelo pai, John Huss, e colocada num convento. Ao longo desta parte, acompanhamos a decadência moral do corpo eclesiástico católico, composto por alguns dos exilados, que vendiam absolvições, deturpavam as escrituras ambicionando poder político e perseguiam vozes dissonantes através da Inquisição. Também vemos o surgimento das primeiras ideias reformistas que levariam, mais tarde, à Reforma Protestante (em 1517, pelo frade alemão Martinho Lutero).
Também acompanhamos, em meados do século XIX, outra encarnação de Verônica, agora Stephanie, em uma família de Quakers (grupo religioso formado na Inglaterra a partir de desavenças com os rumos que a Igreja Anglicana tomava) no estado americano da Pensilvânia. Novamente médium, mais uma vez passa por vicissitudes causadas pela incompreensão dos encarnados. Como pano de fundo, temos a Guerra da Secessão, que contou com a participação de vários exilados nos dois lados do conflito, a abolição da escravatura nos EUA e a atuação de uma parte dos exilados na fundação e nos primeiros anos de atuação da Ku Klux Klan (quanta tristeza ter que relatar isto).
A terceira e última parte tem início em 1997, em Nova York, quando Isabela, uma médica brasileira em férias, presencia o atropelamento de Peter. Assim, Isabela, ou Stephanie, ou Verônica, ou Fausta, esposa de Constantino na primeira parte da história reencontra o antigo poderoso imperador do Império Romano, agora, um mendigo. Um dia, o dono do mundo. Dezenove séculos depois, um Zé Ninguém sem família, sem teto, sem nada.
Jornada nos Anjos é continuação de um outro livro, Exilados por Amor, mas não senti nenhuma dificuldade em acompanhar sem ter nem mesmo ter folheado a primeira parte, que li posteriormente. A ação se desenrola tanto na materialidade como no plano espiritual, com alguns companheiros ajudando e atrapalhando os outros. O conflito entre luz e sombra se dá tanto aqui na materialidade como na espiritualidade. Enquanto uns procuram inspirar, outros tramam vingança.
Para os amantes de história (como eu), é uma maravilha. Acompanhamos o processo de fundação da Igreja Católica, o desvio das ideias cristãs com os os concílios e os dogmas, os tristes episódios de perseguição aos que se opunham aos dogmas, os processos que inspiraram a reforma protestante e a "guerra" no plano espiritual que acompanhou cada um destes eventos.
No entanto, o que mais me marcou foi a compreensão do conceito de mônada, um grupo de almas-afins que se conhecem e permanecem juntas há milhares de anos, alguns na materialidade, outras na espiritualidade ou em ambos os ambientes e desde sempre procuram ajudar-se, ou vingar-se, ou perdoarem-se, ou não. Enfim, toda gama de vicissitudes do embate entre a luz e as trevas. Em Exilados por Amor temos todas as motivações por trás de alguns desses espíritos, mas, repito, não é essencial para compreensão da história.
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