Jessé Lebkuchen 26/07/2020
eu não queria ler nada sobre a pandemia ou coisas do tipo depois de ensaio sobre a cegueira, de josé saramago. sério, esgotei de ler ou assistir os jornais, de ver mil chamadas de publicação de artigos científicos da minha área sobre educação em tempos de coronavírus, fazia o máximo pra fugir de qualquer projeto literário que escrevia sobre a atualidade, porque sei lá, como defesa às vezes parece melhor fingir ou tentar esquecer.⠀
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daí a cristina judar compartilhou comigo esse projeto que ela e outros autores desenvolveram, amei a capa e o design editorial (sim, eu leio livros pela capa com mais vontade) e resolvi ler por ser curtinho. e o resultado foi que eu não sabia que necessitava ler sobre o que estamos vivendo atualmente, ainda mais da forma que os autores que participam propuseram.⠀
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as nove narrativas que compõem o livro trazem perspectivas de escritores brasileiros, em sua maioria, que vivem em são paulo e em berlim. vão desde textos mais introspectivos, como os contos restituição, de carola saavedra, e corpos à vista, de cristina judar, à uma senhora que não tá muito a fim de usar máscaras pra comprar suas garrafas de licor pra acalmar os nervos, em ruth sem medo, de aline bei.⠀
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a obra, mesmo em seu curto tamanho, tem potencial de trazer diferentes vozes com visões plurais sobre os desafios gerados por uma doença, que evidenciam ainda mais a desigualdade social. alguns são só números como a mãe do personagem do conto møns klint, de alexandre ribeiro, ou objetos que servem para a demonstração da “solidariedade”, como no texto a mobília, de raimundo neto. adaptando a famosa frase de george orwell, todos humanos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.
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