Tracinhas 23/03/2018
por Lídia Rayanne
O segundo volume de “A Revolta de Atlas” (denominado “Isso ou aquilo”) inicia alguns meses depois do término do primeiro. O governo ainda está tentando lidar com o incêndio provocado por Wyatt em sua petrolífera – que ganha o emblemático nome de “A Tocha de Wyatt”. Depois desse episódio, que desencadeia num verdadeiro racionamento de energia a fim de economizar petróleo, os burocratas de Washington começam a trabalhar na aprovação de uma série de leis a fim de proibir que mais e mais empresários sigam o exemplo de Wyatt e dos outros desertores.
Dagny também sofre seus dilemas. Enquanto assiste o país e a ferrovia da Taggert se deteriorar, ela se recusa a aceitar que o “destruidor” (como chama o sujeito que tenta cooptar os produtores a largarem todo o seu trabalho) faça mais vítimas. A cada dia se torna mais difícil encontrar pessoas competentes para o trabalho ou dispostas a assumir responsabilidades, mesmo assim ela procura desesperadamente alguém que a ajude a reconstruir o motor que encontrou no livro anterior.
Rearden também vê tudo o que construiu ameaçado quando sua ousadia o transforma num exemplo que o governo quer dar aos outros produtores, que fará de tudo para lhe tomar os direitos sobre o precioso metal que levou dez anos para criar.
“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.”
Resumindo, máxima desse livro é: “quando as coisas estão ruins, lembre-se que elas podem ficar piores”. E põe piores nisso. O caos aqui é instalado e conflitos morais vão colocar os personagens em cada situação que você vai querer gritar de tanta frustração. Uma, em particular, na minha opinião, lá para o final do livro, serviu como ponto de virada para aumentar a determinação da Dagny contra o destruidor.
E, falando de Dagny, tenho que dizer que ela entrou na minha lista de protagonistas favoritas. Ela NUNCA deu a mínima para o fato de que poderiam duvidar de sua capacidade de ser vice-presidente de uma ferrovia, ela simplesmente sacudiu os ombros e foi lá e fez. Ela é um dos "atlas” que não só suportam o peso da companhia, mas do país em suas costas. Ela tem seus momentos falhos? Tem. Detestáveis? Também. Mas isso apenas mostra o quanto é humana, mostrando camadas e mais camadas de uma personagem tão bem trabalhada.
Posso não concordar com toda a filosofia da Ayn Rand, ou, em alguns momentos, achar sua escrita densa demais e por vezes cansativa, mas não posso negar o fato de que seu tom irônico exprime fatos desconfortáveis sobre a realidade como ninguém. Ela tem uma mania polida de jogar coisas mal cheirosas no ventilador, nos fazendo questionar sobre a política que aprendemos desde tão cedo como a melhor para o povo. Será que destruir o poder dos produtores ajuda realmente a melhorar a qualidade de vida dos mais pobres? Será que dar tanto poder a burocratas do governo para nos controlar economicamente é o caminho para a igualdade? Ou apenas um artifício para nos tornarmos completamente reféns de um governo vampírico, que se alimenta do sangue e suor de suas vítimas?
Nesse volume também temos muitos questionamentos sendo respondidos, mas outros são lançados. Afinal, quem é MESMO John Galt? Seria ele um vilão que destrói o mundo ou um herói que fará renascer a determinação de uma nação a partir de suas cinzas?
"– Sr. Rearden – disse Francisco, com voz subitamente calma –, se o senhor visse Atlas, o gigante que sustenta o mundo todo em seus ombros, se o senhor visse o sangue escorrendo pelo peito dele, os joelhos tremendo, os braços estremecendo, porém ainda tentando sustentar o mundo com suas últimas forças, e se quanto mais ele se esforçasse, mais o mundo lhe pesasse nos ombros, o que o senhor lhe diria que fizesse?
– Eu… não sei. O que… ele poderia fazer? O que o senhor lhe diria para fazer?
– Eu diria: sacuda os ombros."
Ansiosa pelo terceiro volume.
site: http://jatracei.com/post/172169594917/resenha-296-a-revolta-de-atlas-volume-2