Karina 18/02/2013Resenha: Viagens na minha terraA história mistura realidade (viagem que o autor fez de Lisboa à Santarém e o contexto histórico) e ficção (narrativa que gira em torno da família de “Irmã” Francisca e de Frei Dinis, além do segredo compartilhado por eles)
A divisão da obra é feita em 49 capítulos, totalizando 255 páginas. O diferencial desse livro se encontra no foco narrativo, que se alterna entre primeira e terceira pessoa. Quando Garrett faz suas digressões, contando sobre a viagem em si, o narrador é em terceira pessoa. A partir do momento em que conta-se a história de Carlos e Joaninha, o foco narrativo torna-se terceira pessoa onisciente, já que o narrador conhece os sentimentos das personagens.
Como o próprio título já diz, Viagens na Minha Terra mostra a viagem que Garrett faz à Santarém. Além da viagem literal, o autor também realiza divagações, mostrando o seu patriotismo quando se entristece com a visão de seu país.
Eis que o autor avista numa pequena casa, Joaninha e sua avó cega. Descobre que semanalmente elas recebem a visita de um frade, e que há um segredo envolvendo Frei Dinis, Francisca e Carlos. Quando mais jovem, Carlos foi estudar em Coimbra e depois na Inglaterra, onde conheceu Georgina, sua noiva da classe alta.
Durante a Guerra Civil Portuguesa, o vale onde morava a pequena família foi dividido pelos dois grupos inimigos: absolutistas e liberais. Entre este último, havia um oficial chamado Carlos, por sinal o mesmo Carlos neto da Irmã Francisca. Ele reconhece a Menina dos Rouxinóis como sendo sua prima, e ao encontrá-la, seu amor antes adormecido desperta com força. Os dois vivem um romance, até que Carlos é gravemente ferido em batalha e levado ao convento São Francisco para se recuperar. Lá, ele tem uma longa conversa com Georgina, e eles terminam seu relacionamento.
Pouco tempo depois, Frei Dinis vai até o quarto pedir perdão a Carlos por todo o mal que causou, mas este se enraivece e se prepara para matar o velho, quando Irmã Francisca, acompanhada por Joaninha, irrompe porta adentro dizendo: “Este homem é teu pai Carlos!” Revelado o segredo da trama, a história parte para o seu desfecho: Carlos vai embora novamente do vale, mais tarde tornando-se barão; Joaninha, desgostosa com a partida do primo, enlouquece e morre; Georgina vira freira; o Frei e Francisca são os únicos que ainda vivem lá, apenas esperando por sua morte. O autor, depois de ouvir este triste final, vai embora de Santarém.
Garrett diz que o desenvolvimento social está baseado em dois princípios: o espiritualista e o materialista. O lado espiritualista é representado por Dom Quixote, ou pelo frade da sociedade velha, já o materialista tem como símbolo Sancho Pança, ou o barão da sociedade nova.
A obra de Garrett é cansativa de ler, devido as constantes digressões que o autor realiza, porém ela é demasiada importante, pois demonstra o amor à pátria que os portugueses sentem, além da Guerra Civil Portuguesa, cenário de boa parte do romance. “Essa Guerra Civil foi o mais importante conflito armado em Portugal durante todo o século XIX” disse José Miguel Sardica, professor da Universidade Católica.
Viagens na Minha Terra é um livro recomendado para alunos que cursam o Ensino Médio ou pessoas que pretendam ingressar em uma faculdade, pois recentemente o título foi adicionado à lista de livros pedidos na Fuvest. Para pessoas que se interessem por obras históricas portuguesas, o título também é uma boa indicação.
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu em fevereiro de 1799, na cidade de Porto, e morreu em 1854. Escritor e dramaturgo, foi ele quem introduziu o Romantismo em Portugal. Depois de desistir da carreira eclesiástica, estudou direito em Coimbra e tornou-se um militante liberal, e por causa disso foi exilado duas vezes na França e na Inglaterra. Além de Viagens na Minha Terra, escreveu outras obras importantes como Camões e Frei Luís de Sousa.