Edu4rd0 30/08/2011
Resenha originalmente publicada em catalisecritica.wordpress.com
A imundice de tanto sexo
e matança vai espumar até
a cintura e todos os políticos
e rameiras vão olhar para
cima clamando:
“salve-nos”.
… E, do alto, eu sussurrarei:
“Não”
-Rorschach
Watchmen. A maior revista em quadrinhos de todos os tempos. A obra que, juntamente com o “Dark Night” de Frank Miller, e Maus de Art Spiegelman, revolucionou para sempre o modo como as pessoas, principalmente os adultos, vêem as HQs, além de ter emplacado as Graphic Novels como um novíssimo e original ramo da arte.
Desde os primeiros rumores e boatos de que este blog seria criado, Watchmen já estava programada com um item obrigatório na lista de publicações. Não apenas pelo fato de que a maioria dos componentes do nosso grupo gosta de HQs, mas por que Watchmen já está registrado na história, por influenciar muitos artistas, escritores, diretores de cinema, roteiristas, e uma infinidade de outras carreiras, em seu modo de pensar e criar.
A frase do título, em uma tradução para o português, significa: “Quem vigia os vigilantes”. Essas palavras já denunciam a proposta da obra. Quando Alan Moore sentou para escrever o roteiro tinha, como principal premissa, a idéia de como a existência de Heróis influenciaria a vida de todos, e como um ser tão poderoso como o Dr. Manhattan influenciaria o destino do mundo.
Aqui todos têm problemas, seja traumas de infância, distúrbios de personalidade, esquizofrenia… O autor tenta retratar como realmente seria se as pessoas convivessem com heróis mascarados espancando bandidos, salvando pessoas de incêndios, posando para revistas, dando entrevistas, etc. No começo, os Homens Minuto (grupo de heróis americano) eram bem aceitos, mas com o passar do tempo as pessoas começaram a perceber que conviver com pessoas que agem acima da Lei não é assim tão bonito. A polícia fazia greves contra os vigilantes, até os bandidos começaram a deixar as clássicas atividades criminosas para investir em outras mais lucrativas (prostituição, tráfico de drogas…), assim os problemas sociais começaram a ser os principais objetivos dos heróis. Algo natural, afinal o real objetivo dos bandidos é obter lucros, e bandidos reais não são agentes de um mal monolítico (ao menos não a maioria…): eles têm família, amigos, e muitos sonham com uma vida melhor, mais próspera.
Mas o marco que separa e distingue a nossa realidade da de Watchmen é o “nascimento” do Dr. Manhattan. Depois de um acidente em um laboratório de física nuclear, um cientista se transforma num ser que consegue enxergar átomos e moldar a matéria à sua vontade. Tornando-o virtualmente um semi-deus. A partir daí a história começa a se transformar.
Os EUA ganham a guerra do Vietnã, graças ao Dr. Manhattan. O Presidente Nixon é bem aceito pela população e, depois de mudar a constituição, permanece no poder por 5 mandatos (Nixon é o presidente atual na trama da HQ), carros elétricos tomam as ruas, a genética e outras áreas da ciência se desenvolvem a níveis absurdos. A União Soviética teme os EUA, pois o Dr. Manhattan pode desarmar toda e qualquer bomba atômica apenas com o pensamento, sendo ele próprio mais perigoso que qualquer bomba, ou mesmo dúzias delas.
Um ponto muito explorado é o fato de, por serem todos os heróis pessoas diferentes, existem sim problemas pessoais entre eles, sejam causados pela forma de falar, pensar, agir, lidar com a realidade, etc. Tendo inclusive ocorrido dentro do próprio grupo brigas, inimizades, estupro, ódio, rancor, inveja, ciúme, etc.
Os Heróis de Watchmen não tem uma definição muito certa ou limitada de até onde se pode ir para fazer justiça. Até mesmo Dan Dreiberg, o Coruja, que sempre se mostrou o mais equilibrado, pra não dizer perfeitinho, em determinado momento extrapola seus próprios limites para interrogar um vagabundo. E até mesmo o “bandidão”, mostra que por trás de tanta coisa ruim um bem maior seria alcançado. Um belo exemplo de que “Os fins justificam os meios”.
O único com poderes super-humanos é o Dr. Manhattan. Todos, inclusive os vilões, contam apenas com força, inteligência e treinamento para lutar. Por isso a motivação é algo tão marcante. Nem todos têm como principal objetivo de vida o anseio por justiça. Alguns embarcaram com esperança de fazer dinheiro, outros por paixão, e alguns pelo simples fato de querer ver o mundo com uma cara mais bonita.
Bem, este “apanhado geral” tem como objetivo atiçar a curiosidade de vocês para o magnífico mundo dos Homens Minuto. Esta série é diferente de qualquer outra na qual já pude colocar minhas mãos. O fato de que os personagens têm medos, limitações e falhas, os tornam mais carismáticos, mais únicos. O que mais gostei foi que, mesmo fazer o bem traz conseqüências, pois até o bem é relativo. Às vezes as conseqüências são tão grandes que fazem alguns se arrependerem das suas ações. E é a capacidade do Autor de mostrar as diferentes personalidades da história lidando com as conseqüências, e com o desenrolar da história que mais atrai o leitor. Quando o clímax da história acontece, logo aparecem aqueles que agem com o cérebro e os que agem com a paixão. Numa HQ comum de Superman, sempre existem situações do tipo: “-para salvar o país você terá que sacrificar este ônibus cheio de criancinhas inocentes”. Neste tipo de situação Superman salva as crianças primeiro e depois o país utilizando de manobras impossíveis.
Em Watchmen existe este tipo de situação. Mas as opções são menos fantasiosas. Os Heróis devem pesar sempre o que é mais importante. O que vale mais. São questões difíceis, mas são reais. E é a mistura da existência dos heróis com as escolhas reais que dão o “sabor” da série.
Não tenho a pretensão de que com isso ter mostrado todas as características e sensações que a leitura de Watchmen proporciona. Estas foram apenas algumas idéias que eu reparei depois que li Watchmen pela primeira vez. Tenho certeza que a experiência é diferente para cada um que lê. E, como o próprio Alan Moore disse: “Watchmen foi feita para ser lida várias vezes”, pois segundo o autor existem muitos detalhes escondidos, muitos pequenos, e alguns poucos grandes.
“Em minha opinião, a vida
é um fenômeno exageradamente
valorizado.”
-Dr. Manhattan